Hortelã dos pinhais
Agrupar espécies num mesmo género antes de dispormos de estudos genéticos deve ter sido tarefa complexa e nem sempre rigorosa. Limitando-se a interpretar detalhes da morfologia das folhas, caules ou flores, o erro era quase inevitável. Foi, todavia, assim que funcionou durante séculos a etiquetagem das plantas, nascendo géneros novos sempre que a comparação era inconclusiva ou os botânicos não se entendiam sobre a autoria dos táxons. A arrumação recente, mais bem fundamentada, confirma, porém, que fiar-se nas parecenças é um bom ponto de partida.
Bystropogon canariensis (L.) L'Hér.
O género Bystropogon é exclusivo das ilhas Canárias e da Madeira, com algumas características que fazem lembrar os géneros Origanum (do orégão) e Thymus (do tomilho). São arbustos pequenos, de talos com secção quadrada e folhas simples, perenes, pubescentes e aromáticas (cheiram a hortelã), geralmente ovadas e com margens crenadas. As flores são tubos minúsculos com quatro estames, lobados como é usual na família Lamiaceae, agrupadas em vistosas panículas ramificadas que lembram nuvens pequeninas de flores brancas, rosadas ou violáceas. Os exemplares das fotos, de B. canariensis, habitam em Tenerife, no extenso pinhal de Pinus canariensis que, entre os 1000 e os 2000 metros de altitude, envolve a estrada ligando San Cristóbal de La Laguna à montanha do Teide.
Pinus canariensis C. Sm. ex DC. — Boca del Valle, Tenerife
No total, há registo de cinco espécies endémicas de Bystropogon no arquipélago das Canárias (B. canariensis, B. origanifolius, B. odoratissimus, B. plumosus e B. wildpretii) e duas na ilha da Madeira (B. maderensis e B. punctatus). Distinguem-se pela penugem, pelos dentes nos cálices, pela coloração das corolas, pela textura mais ou menos coriácea das folhas e, sobretudo, pelas preferências de habitat: as espécies da Madeira, bastante raras, vivem em taludes rochosos com humidade, mais frequentes no interior sombrio da laurissilva; as das Canárias, pelo contrário, apreciam solos secos e boa exposição ao sol. A floração é mais ou menos simultânea, com as espécies das Canárias ligeiramente adiantadas, decerto para evitar o calor excessivo do Verão.
O termo L'Hér. é a abreviatura padrão usada para indicar o botânico francês Charles Louis L'Héritier (1746 – 1800), a quem se deve a primeira distinção clara entre os géneros Geranium, Pelargonium e Erodium.
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