07/02/2021

Alface roxa

Prenanthes purpurea L.


Este é o segundo e último fascículo da série “flores pendentes”. No primeiro falámos da Chrysoprenanthes pendula, endémica da Grã-Canária que começou por chamar-se Prenanthes pendula e, de acordo com a opinião cada vez mais dominante, é na verdade um Sonchus. Deixemos porém a controvérsia taxonómica e concentremo-nos na etimologia. Prenanthes vem dos termos gregos prenes (que significa “virado para baixo”) e anthos (= flor), referindo-se portanto às “flores pendentes” que caracterizam estas plantas. No caso do género Chrysoprenanthes, criado por David Bramwell para combater a inclusão da planta canarina no género Sonchus, o prefixo chryso (= dourado) completa o retrato da planta informando-nos que ela dá flores amarelas. As combinações Prenanthes pendula ou Chrysoprenanthes pendula quase nos pareceriam redundantes, com o epíteto pendula insistindo na ideia de “pendente”, mas essa reiteração refere-se ao hábito da planta e não à disposição das flores.

Desta vez focamo-nos na lineana Prenanthes purpurea, espécie europeia que, após rearrumação taxonómica ditada por estudos filogenéticos, ficou sozinha num género que antes incluía numerosas espécies norte-americanas. É uma herbácea perene, glabra, erecta, de 30 a 150 cm de altura, com folhas todas caulinares, rematadas por aurículas arredondadas, abraçando o caule. Os capítulos, numerosos e dispostos em pirâmide, são roxos e formados por apenas 2 a 5 florículos muito proeminentes. Dada a sua semelhança com certas alfaces silvestres (género Lactuca), os ingleses chamam-lhe purple lettuce; nós seguimos o exemplo e chamamos-lhe alface-roxa. Com floração estival, vive em bosques húmidos, lugares sombrios e margens de cursos de água, sobretudo em lugares de altitude elevada, e distribui-se por quase toda a Europa desde os Pirenéus até à Turquia e ao Cáucaso. Apesar de a sua incursão em Espanha ir pouco além da cadeia montanhosa que marca a fronteira com França, a alface-roxa não é rara nos Pirenéus e nas suas franjas. Vimo-la no vale de Añisclo, um daqueles desfiladeiros calcários que parecem saídos do atelier de um artista de génio; e, num habitat muito diverso, reapareceu-nos, em grande profusão, nos bosques de abetos (Abies alba) e pinheiros-silvestres (Pinus sylvestris) que revestem as íngremes encostas da face norte de Peña Oroel. Esse monte de quase 1800 de altura ergue-se junto à cidade de Jaca, na província de Huesca, e oferece-nos em ante-estreia, com acesso facilitado, muitas das plantas características das altas montanhas pirenaicas.

Vale de Añisclo, Pirenéus aragoneses

Peña Oroel

3 comentários :

cid simoes disse...

Desculpe mas não entendi o título deste post "alface roxa" ?
saúde!

Paulo Araújo disse...

Bom dia. É verdade que esta planta pode nem ser comestível e não se parece com a alface que comemos em saladas. Mas o título está explicado no 2.º parágrafo do texto: “Dada a sua semelhança com certas alfaces silvestres (género Lactuca), os ingleses chamam-lhe purple lettuce; nós seguimos o exemplo e chamamos-lhe alface-roxa.”

bettips disse...

As plantas comestíveis e as não. Há tanta coisa do passado que ignoramos...
De novo, subindo e descendo os vossos montes de assombro: digo porque os descobrem e fico, sempre, assombrada.
Abçs