Tamujo das ilhas
O arquipélago dos Açores é feito de terra jovem de origem vulcânica. A ilha mais nova é o Pico, com cerca de 40 mil anos, sendo Santa Maria a mais antiga, não tendo, porém, mais do que 14 milhões de anos. Como medida de comparação podemos usar o arquipélago da Madeira, que terá nascido há uns 70 milhões de anos. As ilhas açorianas distam relativamente pouco dos continentes europeu e africano, e as plantas que hoje vegetam nestas ilhas resultaram da colonização de espécies continentais (possivelmente com uma passagem por outras ilhas da Macaronésia), que sobreviveram à viagem, se adaptaram ao solo poroso mas muito fértil, e cujo ciclo de vida se coordenou com o clima atlântico de temperaturas amenas e muita chuva. Passados milhões de anos, algumas das plantas açorianas têm já fraca lembrança dos progenitores, e são hoje espécies autónomas, que não existem em mais nenhum local do mundo. Por exemplo, o Cerastium azoricum, a Myosotis azorica e a Euphrasia azorica só ocorrem nas ilhas mais ocidentais, Flores e Corvo, embora os géneros correspondentes estejam representados na flora continental. Noutras espécies, porém, a herança genética foi mais resistente à erosão do tempo, ou a chegada às ilhas foi mais tardia, ou a colonização foi mais difícil — e as semelhanças morfológicas com as espécies continentais mantêm-se. Por isso, é ainda controverso que essas plantas açorianas constituam espécies distintas.
O tamujo tem, todavia, um perfil peculiar entre os cerca de 70 endemismos açorianos conhecidos: para além da Myrsine retusa, só duas espécies adicionais (Smilax azorica e Corema album subsp. azoricum) são dióicas. Supomos que, nesse pormenor, estas espécies tenham estado em desvantagem, pois são precisas plantas dos dois sexos para que a espécie se instale com sucesso num novo habitat.
Da família Primulaceae, o tamujo está presente em todas as ilhas açorianas, aprecia os bosques sombrios e frescos de cedro-do-mato (Juniperus brevifolia), e forma arbustos baixos de folhagem perene muito ramificada, com folhas ovais arredondadas, alternadas, coriáceas e dentadas no ápice. A floração inicia-se no fim de Março, pelo menos na ilha de Santa Maria, onde pudemos finalmente ver este ano as flores: as masculinas com anteras vermelhas muito vistosas; as femininas diminutas (cerca de 2 mm), esbranquiçadas, com sépalas pintalgadas. O fruto é uma baga com uma semente.
1 comentário :
Tão bom, assim, com os ramos recolhidos da minha árvore de andar, sonhar...
É sempre um gosto passar. Pelos olhos nos revemos.
Abçs
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