02/11/2021

Mocano à janela

O envelhecimento das árvores também se nota, através de rugas e sinais deselegantes na casca do tronco, que se torna mais áspero com o acumular de anos. Mas, ao contrário das pessoas, as plantas mantêm a funcionar até à morte, aparentemente sem defeito, os mecanismos que geram folhas e ramos novos, flores e frutos. Decerto precisam dessa tarefa toda a vida pois, sem mudarem nunca de endereço ou de paisagem, como iriam gastar o tempo e combater o tédio? Em algumas espécies as diferenças de idade são mais notórias, e é fácil saber se estamos perante um exemplar jovem ou um idoso, ainda que ambos tenham 8 metros de altura. É o caso da árvore madeirense que vos mostramos hoje.

Visnea mocanera L. f.


A Visnea mocanera é um endemismo da ilha da Madeira e do arquipélago das Canárias (com excepção de Lanzarote) e a única espécie conhecida do género Visnea. O epíteto específico alude ao nome vernáculo, mocan, dado a estas plantas de folhagem perene pelos aborígenes das Canárias. As árvores desta espécie podem chegar aos 10 metros de altura, mas os ramos são curtos e as folhas pequeninas, por isso a copa é densa. Nela se escondem, entre Dezembro e Março, grupos de flores muito perfumadas, de cinco pétalas brancas a formar uma delicada campanula com inúmeros estames ao centro.



Na nossa visita à levada da Ribeira da Janela, na ilha da Madeira, em Maio de 2020, os mocanos que vimos estavam para lá da floração, mas ainda sem o ciclo anual terminado. Resultado: conseguimos ver frutos, carnudos e verdes, do tamanho de avelãs, mas poucos da cor púrpura que os torna apetecíveis quando amadurecem. Outrora foram usados para fazer compotas e licores, mas a espécie tem vindo a rarear. Faltam-lhe talvez locais soalheiros e quentes, de solos férteis, entre os 300 e os 600 metros de altitude. Ou então já sobra pouco espaço para ela na laurissilva do barbusano, o habitat que ela prefere. Ou isso, ou a culpa é do uso desenfreado da madeira desta árvore, firme e avermelhada.

Diz-se que, nas Canárias, é a ilha de El Hierro (que ainda não conhecemos) a que contém exemplares de V. mocanera mais desenvolvidos e em populações mais estáveis. Para estimarmos a antiguidade dos exemplares, bastará notar que o ritidoma é verde e liso quando jovem, tornando-se progressivamente cinzento, castanho e bastante rugoso. Em Tenerife, deveríamos ter estado atentos a estas plantas nas caminhadas no centro da ilha, em Güimar, ou no norte, em Anaga. Teremos de lá voltar, olha que bom, para corrigirmos esta desatenção.

1 comentário :

bettips disse...

Por agora, cuidado com a actividade vulcânica na zona. Mas os vossos motivos são sempre bons/belos para voltar. E, claro, as vossas apreciações que sempre envolvem preocupação pela evolução do que nos rodeia. O mundo vegetal tão importante para a saúde do planeta. Abç