08/11/2021

Cárice na sombra

Carex lowei Bech.


Descrita originalmente em 1939 sob o nome de Carex lowei, e dedicada ao reverendo Richard Thomas Lowe, que viveu de 1802 a 1874 e foi autor de A Manual Flora of Madeira, esta cárice endémica é moradora dos vales húmidos e sombrios do norte da ilha da Madeira. É uma planta rizomatosa de porte considerável, com hastes que podem atingir metro e meio de altura, e que exibe folhas longas, finas e planas, com margens ásperas. No aspecto geral, e mesmo na ecologia, faz lembrar a endémica açoriana Carex hochstetterana: são os mesmos tufos de folhagem fina e lustrosa, as mesmas hastes arqueadas enfeitadas por espigas mais ou menos pendentes. Além disso, em ambas as espécies, os frutos (ou, mais propriamente, as utrículas) são protegidos por brácteas (ou glumas) rematadas por longas aristas (veja a 4.º foto acima e também esta), o que permite distingui-las da C. pendula ou de espécies aparentadas como a recém-descrita C. leviosa.

O que singulariza a C. lowei face a quase todas as suas congéneres, e torna a sua identificação inequívoca no período em que está em flor (de Maio a Junho), é que as espigas femininas parecem muitas vezes agrupar-se aos molhos, dando à planta um aspecto desgrenhado. Avisam os sempre picuinhas botânicos que não se trata de espigas agrupadas, mas sim de uma só espiga várias vezes ramificada. Mas, indepentemente de dominarmos ou não os detalhes, ou de usarmos ou não a terminologia correcta, é sempre bom travarmos conhecimento com uma planta de um género taxonomicamente problemático que se deixa reconhecer à primeira vista.

Quem se inicia na observação de plantas tem tendência a ignorar gramíneas, ciperáceas, juncos, fetos — todas aquelas herbáceas que, não se destacando pela floração vistosa (ou, no caso dos fetos, nem sequer tendo flores), se perdem num verde anonimato. Mas são essas plantas que ainda não aprendemos a nomear que dão vida e encanto a muitos bosques.

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