16/11/2021

Uma planta modelo

As plantas anuais germinam, crescem e florescem num período curto, que pode ser mais breve do que um ano (em alguns casos não excede um mês). Quase toda a energia da planta é dirigida para a floração e a frutificação; uma vez atingido o objectivo de produzir sementes, a planta morre. Esta estratégia de sobrevivência depende demasiado da sorte mas, dada a enorme quantidade de sementes produzidas anualmente, há realmente chance de algumas gerarem novas plantas.

As plantas perenes levam uma vida mais calma, e apostam numa estratégia distinta. Nos primeiros anos, muitas delas apenas produzem folhagem e raízes, investindo todo o esforço numa estrutura robusta, lenhosa ou muito ramificada. Se conseguirem sobreviver aos primeiros invernos e estiagens, então aprenderam o essencial para arriscarem florir e frutificar. E, depois de uma juventude completamente improdutiva, podem durar nesta rotina centenas de anos.

Em 2008, descobriu-se que a activação de apenas dois genes na espécie Arabidospis thaliana pode convertê-la a um regime perene, e vice-versa. Mas que vantagens há numa vida breve? Por que razão nem sempre é melhor ser-se árvore?

Arabis alpina subsp. caucasica (Willd.) Briq.


A resposta parece estar na maior ou menor capacidade de uma espécie se adaptar a um habitat. A vida num clima mais quente e seco, num solo mais pobre, ou num ambiente tropical tempestuoso, pode beneficiar as espécies que florescem mais cedo, antes das demais espécies, reduzindo a competição por nutrientes ou luz -- ainda que, com esse estilo apressado, a sua esperança de vida se reduza drasticamente. E há sempre trunfos na manga: algumas plantas anuais mantêm activa a auto-fertilização, como um último recurso, outras escondem no solo um banco de sementes com várias idades, com que mitigam o impacto de flutuações no clima ou de mudanças aleatórias no habitat.



Vem isto a propósito da espécie perene Arabis alpina, que há uns milhões de anos colonizou as montanhas mais elevadas da Madeira. É comum vê-la nas paredes das levadas, em ravinas e nos picos mais altos. Dela descendem inúmeras outras espécies europeias de Arabis, com uma distribuição muito ampla, várias delas anuais. São espécies vencedoras, com tempos de germinação curtos, ciclos de vida muito flexíveis, respostas bem sucedidas à selecção natural e uma diversidade genética invulgar. Mas cuja existência dependeu do potencial de sobrevivência da espécie ancestral perene. Por este andar, é bastante provável que a evolução das plantas as leve a um controlo perfeito da longevidade.

1 comentário :

bettips disse...

Rotinas sempre novas... mas também se usa agora tanto a "resiliência" que as plantas se calha até ouviram! Na verdade, com tantos crimes contra elas, conseguem ainda renascer em condições adversas.
Abçs