28/08/2023

Cenouras na praia

É curioso o talento da linguagem para descrever em detalhe o que é pequeno. Tarefa exagerada, dirão alguns, essa que valoriza o que há de menos. Contudo, nem tudo o que é pequeno o é pelas mesmas razões, e as etiquetas podem combinar-se para realçar a diversidade no mundo das coisas diminutas. Em latim, usado frequentemente em taxonomia para os epítetos específicos, pequeno pode dizer-se de muitas maneiras: minutus, parvus, exiguus, brevis, pusillum, humilis, lenonius, exilis, improcerus, vegrandis, pumilus, minusculus.

Pseudorlaya minuscula (Pau) M. Laínz


Às plantas das duas espécies conhecidas do género Pseudorlaya (P. minuscula e P. pumila) assenta bem qualquer um destes adjectivos, pois são rasteiras e os seus talos não ultrapassam em geral os 10 cm de comprimento. O problema é que estes dois nomes idênticos não permitem distinguir estas umbelíferas: dizem apenas que são ambas de estatura reduzida, semelhantes às espécies do género Orlaya. Recorrendo ao volume apropriado da Flora Iberica, porém, podemos resumir deste modo as diferenças essenciais: a P. pumila tem frutos um pouco maiores, com espinhos de tamanhos distintos; a P. pumila restringe-se ao litoral a sul do Tejo, tendo a P. minuscula uma distribuição mais vasta.

A P. minuscula é uma herbácea anual, ramificada na base. A umbela de flores é compacta, com 6 a 10 flores, das quais cerca de metade são hermafroditas e as restantes funcionalmente masculinas. Note-se como toda a planta está coberta de pêlos duros, que decerto a protegem do vento que a fustiga com areia, além de reduzirem a exposição solar e permitirem captar a água produzida pela condensação da neblina costeira.

Há registo desta herbácea apenas na Península Ibérica e em Marrocos. Os exemplares das fotos são de uma praia em Esposende, do bordo de um caminho numa duna primária muito erodida, perto de uma população numerosa do raro Phleum arenarium. Por ser minúscula, é difícil de encontrar; se o leitor quiser procurá-la, o melhor é fazê-lo em dunas menos perturbadas, e onde a competição com outras plantas seja reduzida.

1 comentário :

Anónimo disse...

Bom regresso! Depois do Norte, será uma ilha algures? Fazem falta as paisagens à volta das "piquenas coisas".
Abçs
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