Pinheirinho crespo
Antes do advento dos estudos genéticos e da revolução que o Angiosperm Phylogeny Group trouxe às árvores taxonómicas, o género Plantago, ainda que respeitado pela sua diversidade e cosmopolitismo (ocorre em todos os continentes e alberga duzentas espécies), não suscitava particular devoção da generalidade dos botânicos. Além de as espécies que o compõem terem inflorescências pouco chamativas, não lhe incrementa o prestígio que algumas delas (por exemplo, P. lanceolata, P. coronopus e P. major) sejam plantas ruderais muito comuns. Mas o mundo foi virado do avesso e a família Plantaginaceae — encabeçada, como é bom de ver, pelo género Plantago — absorveu uma mão-cheia de plantas vistosas e com uma firme legião de admiradores, como as linárias, as bocas-de-lobo e as dedaleiras, todas elas anteriormente incluídas na família Scrophulariaceae. Ainda hoje há quem não aceite líder tão fruste para plantas tão garbosas, preferindo inventar famílias espúrias como Antirrhinaceae.
Há assim motivos para olharmos estas plantas com outro apreço. A versatilidade de formas é um dos atributos do género: além das ervas reduzidas a meia dúzia de espigas florais emergindo de uma roseta basal, há espécies com hastes ramificadas mas que têm ciclo de vida curto (P. afra), e outras que desenvolvem base lenhosa permanente e formam autênticos arbustos. É a esta última categoria que pertencem algumas das espécies endémicas da Macaronésia: P. arborescens (com várias subespécies na Madeira e nas Canárias, entre elas a madeirense subsp. costae), P. famarae (exclusiva de Lanzarote) e P. webbii (ilustrada nas fotos, endémica de La Palma, Tenerife e Grã-Canária).
A crespa ou pinillo blanco (são esses os nomes vulgares do P. webbii) é um arbusto de uns 30 cm de altura que cresce em lugares rochosos em zonas de montanha, geralmente acima dos 1400 metros de altitude. É frequente em La Palma no bordo da Caldeira de Taburiente, e floresce entre Maio e Agosto. As folhas, que revestem as hastes de cima a baixo, como que agasalhando-as do frio, são lineares e quase verticais, o que diferencia a planta, logo à primeira vista, das suas congéneres também lenhosas, pois tanto P. arborescens como P. famarae têm folhas concentradas nas extremedidades das hastes e em posição mais ou menos horizontal.
Pinillo, que poderíamos traduzir por pinheirinho, é um nome que em Espanha, segundo o portal Anthos, se aplica, em combinações variadas, a um grande número de espécies vegetais, incluindo, além de diversas espécies de Plantago, alguns Equisetum, várias lamiáceas dos géneros Ajuga e Teucrium, e ainda a composta Leuzea conifera. Igual confusão reina entre os pinheirinhos deste lado da fronteira. Em Portugal e em Espanha, se quisermos falar de plantas sem provocar confusões, os nomes comuns são de evitar.
2 comentários :
Além das orgulhosas plantas rasteiras, a maravilha das cores da terra!
Porque não hão-de ser as Antirrhinaceae independentes das Plantaginaceae, realmente?
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