28/02/2025

Arroz à andaluza

É sabido que as plantas do género Sedum — várias delas conhecidas, por causa da folhagem miúda e do tipo de habitat que preferem, como arroz-dos-muros ou arroz-dos-telhados — são das mais bem adaptadas à secura. Não apenas porque a textura suculenta lhes permitir armazenar água, mas porque o próprio metabolismo da planta impede que o precioso líquido seja desperdiçado: os seus estómatos abrem-se apenas à noite, minimizando assim as perdas por transpiração durante o dia. Além disso, o hábito rasteiro torna-as praticamente invulneráveis a ventos e intempéries. Quem tiver estas plantas num muro ou num telhado pode ficar ciente de que, se não forem arrancadas à força, elas estão lá para a eternidade — ou até que o muro ou a casa venham abaixo. Por isso são já muitas as empresas a vender coberturas verdes formadas exclusivamente por Sedum: são bonitas, quase dispensam manutenção, e têm longevidade garantida.

Sedum dasyphyllum L.


Apesar das defesas que desenvolveram contra a secura, nem todos estes arrozes gostam de viver em climas áridos. Em Portugal continental até se dá o fenómeno oposto, pois a maioria das espécies de Sedum que por cá temos é mais frequente a norte do Tejo, e o género parece ser inexistente em grande parte do interior alentejano (provavelmente por falta dos afloramentos rochosos onde a planta prefere instalar-se). Além disso, aquela que é talvez a espécie mais comum no norte de Portugal, S. hirsutum, tem decidida apetência por lugares húmidos, tanto assim que está quase ausente da metade sul da Península Ibérica.

Não significa isto que no sul de Espanha, e em particular na Andaluzia, não haja qualquer Sedum, ou que as espécies do género sejam aí particularmente raras. Frequente nos afloramentos calcários dessa região (e também nas Baleares) é o Sedum dasyphyllum que mostramos nas fotos acima. Esse Sedum é inexistente em Portugal, mas assemelha-se ao S. hirsutum — que, contudo, prefere granitos ou outros substratos ácidos. A diferença morfológica mais significativa entre as duas espécies parece ser esta: no Sedum hirsutum as hastes floríferas emergem do centro das rosetas basais, mas no S. dasyphyllum essas rosetas (que podem ser numerosas) são sempre estéreis, e as flores são produzidas em hastes independentes. A pilosidade nem sempre é um carácter diferenciador fiável: o S. hirsutum costuma ser bastamente peludo, mas o S. dasyphyllum é variável, sendo quase glabros os indivíduos da subespécie dasyphyllum, e bastante pilosos os das outras duas subespécies reconhecidas pela Flora Iberica. À subespécie granatense supomos que pertença, sobretudo porque a fotografámos na província de Granada, a planta ilustrada abaixo. Não temos certeza da identificação, pois a nossos olhos ela praticamente não se distingue do S. hirsutum.

Sedum granatense Pau [= Sedum dasyphyllum subsp. granatense (Pau) Castrov. & Velayos]

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