Coxins de Menorca
Em Maio deste ano voltámos a Menorca com o propósito de ver socarrells em flor. Trata-se de um grupo heterogéneo de plantas que, face a um ambiente difícil de colonizar, adquiriram morfologias semelhantes por seguirem a mesma fórmula de sucesso: tornaram-se arbustos lenhosos em forma de coxim, de contorno mais ou menos arredondado, com talos tortuosos de pontas afiadas e ramagem intrincada e espinhosa. Em Menorca, este fenómeno curioso ocorreu com espécies que ocupam habitats secos e expostos do litoral, que o vento fustiga permanentemente e onde o solo é pedregoso e pouco firme. Para completar o carácter singular desta evolução, noutros locais mais acolhedores e estáveis, algumas destas plantas têm versões que são herbáceas ou trepadeiras não espinhosas.


A região mediterrânica é rica em espécies do género Launaea, mas esta é um endemismo das ilhas Baleares. Talvez seja o socarrell mais frequente dos que aqui mostraremos, ocorrendo em quase em todo o litoral de Menorca. Aninha-se sem dificuldade em fendas de rochedos calcários costeiros, e floresce abundantemente entre Maio e Julho.






Este foi o socarrell mais difícil de encontrar. As fotos foram tiradas numa ladeira seca costeira, em Cala Mica. Além de rara, esta asterácea confunde-se, a um olhar desatento, com a anterior quando não está florida. É um endemismo de Menorca, e distingue-se pelos talos grossos e os espinhos agrupados em conjuntos de três. As flores, que surgem de Maio a Junho, parecem-se com as do género Centaurea. Com apenas uma excepção, os restantes socarrells de Menorca pertencem à família das leguminosas.



Os coxins deste socarrell, com uns 60 cm de altura mas frequentemente muitos metros de largura, formam matos extensos, vistosos em Maio pelas flores amarelas que cobrem toda a planta. Habita fragas íngremes e rochedos em locais ventosos do litoral. É mais um endemismo de Menorca, fácil de encontrar na costa norte da ilha. A única espécie do género que ocorre em Portugal continental, Anthyllis vulneraria, é uma herbácea rasteira que surge em habitats muito diversos, desde orlas de bosques a areias litorais.



Este socarrell é mais um endemismo das ilhas Baleares cujo período de floração também inclui Maio. A ramagem é densa, destacando-se nela espinhos erectos e ameaçadores. Prefere solo calcário e ocorre por vezes em matos cerrados. Nota-se alguma semelhança, no emaranhado de talos e na morfologia das flores, com o Astragalus tragacantha, das arribas calcárias do litoral sudoeste do Algarve.





Este é decerto o socarrell mais surpreendente, e é também endémico do litoral das ilhas Baleares. Pertence ao mesmo género e tem fortes parecenças com a herbácea Dorycnium pentaphyllum, sobretudo pela ramagem, glauca e penugenta, e pelas flores brancas pequeninas. Distingue-se pelo arranjo em coxim, que lhe permite segurar-se ao chão mesmo sob forte ventania. O intervalo de floração destas duas espécies de Dorycnium é o mesmo (Abril a Junho) e ambas ocorrem em prados secos. No cabo Favaritx, onde a dose de vento é em geral generosa e persistente, há uma população notável desta forma bizarra de Dorycnium.



A Smilax aspera var. balearica, praticamente sem folhas e com ramos grossos não trepadores, parece um engano de fabrico. A sua morfologia coincide em quase tudo com a da trepadeira Smilax aspera, que é assídua nos nossos bosques e é comummente conhecida como salsaparrilha. Contudo, os ramos secos que servem de espinhos e o arranjo almofadado são, de novo, indício de uma adaptação que permitiu a sua sobrevivência no litoral pedregoso de Menorca, onde é particularmente frequente em Punta Nati. Curiosamente, em Maiorca, a mesma variedade de Smilax também ocorre no interior da ilha.
2 comentários :
Acho que andei pelos coxins, num acaso, pelas calas adiante e bem difícil o acesso, algumas. Mas não "os reparei" senão agora. Gostei muito da pequena ilha orgulhosa e da sua diversidade, ainda um pouco nostálgica, comparada com as grandes. Abçs
1 conjunto de plantas mto interessantes, belas e raras!!
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