Ramalhete de endémicas
Em Menorca, o mar Mediterrâneo está quase sempre à vista, e de perto pois a altitude não excede os 340 metros. É inevitável, para quem visita a ilha, passear demoradamente à beira mar, onde não faltam passadiços pelo areal avermelhado ou de tom ocre, e caminhos estreitos mas bem cuidados desde o topo dos penhascos até às baías com água azul-turquesa. Apesar da presença de inúmeros turistas, a costa de Menorca é um habitat bem preservado, por vezes com zonas interditadas para conservação de alguns endemismos raros. Exemplo disso é Cala del Pilar, uma praia na costa norte moldada pela tramontana (o sussurro de Menorca), um vento frio e seco que, dizem, chega a Menorca revigorado pela viagem desde os Alpes. A vegetação neste local é testemunha dessa permanente agitação atmosférica, do ar limpo e quase sem humidade, que a mantém saudável mas de pequeno porte. Não surpreende que a maioria das plantas que aqui se encontram sejam arbustos ou herbáceas perenes de base lenhosa, com talos prostrados a formar coxins atarracados e folhame muito penugento. Quando também ocorrem em Maiorca, frequentemente colonizam também nichos nas montanhas, até cerca de 1400 metros acima do mar, em taludes e rochedos sem tanta ventania. É o caso das três espécies que vos mostramos hoje.

Este endemismo de Menorca e Maiorca é uma planta arbustiva com cerca de 50 cm de altura, revestida de indumento denso que lhe dá um aspecto aveludado. As folhas são imbricadas e as flores, que nascem entre Fevereiro e Julho nas axilas das folhas, agrupam-se em capítulos terminais com 2 a 3 flores. É uma espécie dióica (as flores masculinas e as femininas nascem em pés distintos); nas fotos acima pode identificar essa separação (à esquerda, está a flor masculina). O género Thymelaea abriga um número considerável de espécies que apreciam a beira-mar, agasalhadas do vento e da maresia pela lanugem, gastando por isso quase todos os epítetos que em taxonomia se referem a esta camada protectora: T. hirsuta, T. lanuginosa, T. velutina, T. villosa, T. pubescens...
A herba de Santa Maria (ou didals de la Mare de Déu) é mais um endemismo das ilhas Baleares, ocorrendo em fissuras de rochas calcárias junto ao mar, e nas montanhas de Maiorca até aos 1400 m. É uma herbácea perene de base lenhosa, com uma roseta densa de folhas basais e uma haste floral, coberta de pêlos curtos, que pode atingir os 80 cm de altura. Distingue-se bem da maioria das espécies do género Digitalis, e em particular da D. purpurea, pela menor envergadura, pelas flores por vezes brancas (embora em regra sejam rosadas), e por a corola ter os lóbulos laterais do lábio inferior mais proeminentes.

Partilhando as mesmas areias compactas do litoral, ou as mesmas encostas pedregosas de origem calcária em matos de montanha até os 1400 m, ocorre um subarbusto de uns 40 cm de altura com folhagem glandulosa acinzentada, muito peludinha e aromática, que parece formar bolinhas de algodão agarrados aos ramos. Trata-se de uma espécie do género Santolina, também endémica das Baleares (Maiorca e Menorca) e bastante resistente à secura. Os capítulos de flores, em geral solitários e inicialmente da cor do limão, têm cerca de 1 cm de diâmetro, com as flores do bordo a desabotoarem antes das do centro. Apresenta algumas semelhanças com a ibérica S. rosmarinifolia.



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