Pão com rosmaninho
«Arrábida, Junho de 1545
Na encosta da serra da Arrábida, no convento dominicano de Santa Maria da Piedade, os religiosos atravessavam o claustro interior, a caminho do refeitório.
Gaspar contemplou os pequenos barcos de pesca, pontinhos coloridos que se moviam no oceano que rebrilhava na luz matinal (...) e, como todas as manhãs, pensou que, com uma vista daquelas, pouco custava louvar o senhor ao despontar de cada novo dia.
Como fazia todas as manhãs. Gaspar louvou ao mesmo tempo frei António, que lhe dera a ideia, verificando com satisfação que, aparentemente, o espinheiro-alvar, se contentava com o orvalho para crescer e desviou-se ligeiramente para a direita, para apanhar um ramo de rosmaninho, que esfregou entre o polegar e o indicador, deixando as folhinhas deslizar-lhe para o bolso, onde se foram juntar ao tomilho, à murta, aos oregãos, ao louro... Depois passou, esfregando, os dedos por baixo do nariz.
Ele solucionara o problema do eterno pedaço de pão seco que constituía o pequeno-almoço logo a partir do primeiro ano de noviciado: ao pedaço de pão conventual, alimentício mas magro de fantasia, que comia com a boca, juntava o seu nariz uma pitada de aroma de ervas aromáticas. Naquele dia, portanto, iria ser rosmaninho.»
In A China de Gaspar, de Magda van den Akker (Editorial Caminho, 1992)
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