A faia em quatro novas lições
Fotos: pva 0411-0412 - Fund. Eng. António de Almeida e Serralves
No tempo em que a ludo-pedagogia não dominava exaltava-se o valor didáctico da repetição, e daí que muitos portugueses acima dos trinta ainda saibam recitar a tabuada ou consigam calcular o troco de cabeça. Da repetição, argumentava-se, acabaria por nascer a compreensão: de tanto insistir que 9x8 = 72, alguma vez, num relâmpago de inspiração, se iriam perceber as razões profundas de tão estranho resultado.
Já aqui falámos da faia: da sua robustez elegante, da sua fidelidade como repositório de afectos gravados, das cores outonais da sua folhagem. Mas, com a sucessão dos dias, os textos antigos são empurrados para o fundo da página até adormecerem no arquivo. Desfilam novos assuntos, novas árvores; porém a faia continua a deslumbrar-nos. Por isso a recapitulamos em quatro novas lições ilustradas: à força de a repetirmos ela há-de fazer parte de nós, e então talvez a possamos compreender.
9 comentários :
Boa tarde
Foi preguiçoso da minha tarde não ter legendado as fotos, mas também queria ver se alguém notava essas folhas de faia tão incomuns. Os dois tipos de folha vêm de árvores diferentes - ou seja, a mesma árvore não dá folhas dos dois tipos. As faias "normais" têm folhas como na foto da esquerda; as da direita são do cultivar "asplenifolia", de que no Porto só conheço o exemplar em Serralves (em Coimbra, no Jardim Botânico, há outro exemplar no Quadrado Central).
O que é curioso é que estas árvores não são de espécies distintas: todas elas são "Fagus sylvatica", ou faia europeia. Os chamados "cultivares" são clones de uma mesma planta que sofreu uma mutação espontânea considerada interessante pelos horticultores, que por isso a reproduzem por métodos vegetativos. Isso quer dizer que as sementes da "asplenifolia" dão em princípio origem à versão "normal" da faia e não à versão mutante.
As duas variedades são indistinguíves quando as árvores estão sem folhagem. Descobri há uns anos atrás essa faia em Serralves, e na altura também me fez confusão que uma faia pudesse dar tais folhas.
Gostava muito de ver essas fotos de Glasgow.
àrvores...as minhas amigas de sempre, as minhas companheiras, as minhas confidentes?...loucura? Não porque as minhas árvores são especiais: são minhas...jinho, BShell
obrigada, obrigada
Boa noite Verónica,
(Peço desculpa se me enganei no nome.) Essa árvore de Glasgow, a meio caminho entre o mutante e o não-mutante, não será resultado de um enxerto? Com certeza haverá no Jardim Botânico quem saiba a explicação (que fiquei mesmo muito curioso em conhecer).
Que notícia extraordinária! É como se a mutação fosse uma doença de que a árvore se curou espontaneamente; e quem sabe se o mesmo não acabará por suceder a todas as árvores da mesma variedade (todas elas clones de uma mesma árvore).
Posso receber as fotos por email desde que os anexos em cada mensagem não ultrapassem os 4 MB. O meu endereço é
paraujo(at)fc.up.pt
E muito obrigado por tão preciosa colaboração!
Obrigada por mais esta achega, está a revelar-se uma fonte inesgotável de informações num assunto muito interessante. A faia asplenifolia, por ser um cultivar, não se reproduz por semente, daí o uso pelos jardineiros de estacas (ou ramos), várias para aumentar o sucesso do plantio. Soa plausível que as estacas tivessem origens diferentes, por engano ou não; mas a hipótese da árvore ser uma mutante a regredir estava a maravilhar-nos...
Em relação às faias do cultivar asplenifolia... quem quiser adquirir uma ? julgo que um horto em Amarante de nome "Mestre Jardineiro" ainda deve ter algumas... tinha umas pequenas com cerca de 1 metro e uma maior com 4 ou 5 metros.
Comprei na semana passada uma faia do cultivar asplenifolia, no mestre Jardineiro ( pela indicação que fez aqui no comentário).
Estamos em 2008, o seu comentário é de 2005, isto apenas para dizer que este blog é interessantissimo, que dá vontade de o esmiuçar até ás últimas...
Não percebo nada de botânica, mas adoro o tema e leio imenso, tento perceber alguma coisa...ehehe
Parabéns
Lourdes
Bom Dia a todos
Hoje, ao terminar de ler Dom Quixote de Miguel de Cervante, tradução e adaptação de Orígines Lessa, tive a curiosidade de conhecer a faia sob a qual Dom Quixote e Sancho Pança repousam após a Batalha Final. Apreciei e muito a troca de informações nos comentários.
Vou procurar ser mais observadora ao andar pelos parques. Quem sabe eu encontre, pois algumas espécies de árvores foram trazidas da Europa e Oriente e se adaptaram bem ao clima de nossa região (São Paulo).
Abraços
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