Pão do deserto
Lê-se na Bíblia, no Livro do Êxodo, versículo 31, que «os filhos de Israel se alimentaram no deserto por quarenta anos» de uns bolinhos feitos com maná, substância branca que se parecia com a semente de coentro e tinha sabor a mel - ou, miraculosamente, o sabor que se desejasse. É controversa a identificação deste produto, mas parece certo que se trata de uma resina açucarada, que solidifica em torrões de um pó branco, libertada por folhas ou troncos de algumas plantas quando picadas por insectos ou feridas de qualquer outro modo. Entre elas o freixo, que a segrega naturalmente nos meses quentes, e a tamargueira (Tamarix mannifera), que abunda em regiões áridas ou semi-áridas do Egipto e do Irão. Colhido de madrugada, antes que o sol o derreta ou as formigas o devorem, é ainda hoje suplemento alimentar para tribos nómadas do deserto do Sinai (e mesmo ingrediente turístico vendido pelos beduínos). É possível que a famosa ambrosia que deliciou os deuses gregos seja também este maná, produzido por espécies mediterrânicas de tamariz.
Aparte esta lambarice, os pés de tamariz são também úteis para estabilizar solos arenosos e como abrigo junto ao mar - por isso são opção frequente na arborização dos bordos das nossas ventosas praias nortenhas. Mas a folhagem em filigrana e a atraente floração em espuma cor-de-rosa, feita de flores pequeninas de uma só bráctea e quatro a cinco pétalas, só se revelam harmoniosas se crescerem protegidas do vento. É que nesta espécie as extremidades dos ramos, e só elas, são de folha caduca e, com o vento, tendem a quebrar, deixando a copa despida e descabelada.
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