Maiores não se fazem
Alberto Rocha, que conhecemos na noite de lançamento do livro, bem nos tinha dito, abrangendo com um gesto a ampla sala onde tinha decorrido a sessão: ela não cabe aqui dentro. E no passado sábado, quando visitámos o jardim da Sra. Joaquina Moreira, no lugar de Crasto, em Perosinho (Gaia), as expectativas ainda foram ultrapassadas: esta Camellia japonica é de facto um portento, levando de vencida, na amplitude da copa e na espessura do tronco, outras japoneiras descomunais como as da Quinta da Aveleda e do Prado do Repouso aqui apresentadas. Para nosso embaraço, e como esta campeã dá flores de uma variedade diferente, a descoberta obriga-nos a emendar a teoria então formulada, que fica agora assim: as pompónias são vice-campeãs.
Uma particularidade da árvore é que a sua base está soterrada, fazendo-a parecer mais baixa do que na realidade é. Estando ela situada em terreno inclinado, o solo tinha tendência a deslizar, deixando-lhe as raízes a descoberto; construiu-se por isso à sua frente um muro de 76 cm de altura, formando uma espécie de caldeira que depois se encheu de terra.
Numa altura em que recrudesce a curiosidade internacional pelas monumentais camélias portuguesas, uma árvore como esta não poderia continuar indefinidamente no anonimato. Clara Gil de Seabra, directora da secção portuguesa da Sociedade Internacional das Camélias, visitou-a em 2003 e sobre ela publicou, no mesmo ano, um artigo no International Camellia Journal. Tendo em conta as medidas que encontrou (13,15 m de diâmetro da copa; 5,18 de perímetro na base do tronco; 3 m de PAP), Clara Gil «compara favoravelmente» esta camélia com outras consideradas muito antigas com base apenas no tamanho: as de Campo-Bello (em Gaia), a da Quinta da Aveleda, e uma outra já morta em Vila Boa de Quires (que tinha também 13 m de diâmetro de copa). Interpretamos este comparar favoravelmente como significando que esta é pelo menos do tamanho das outras, se não for maior. Apesar disso, Clara Gil atribui-lhe uma idade provável máxima de 200 anos, quando das camélias de Campo-Bello se chegou a escrever terem quase 500. O problema é que a entrada oficial das camélias no nosso país ocorreu apenas há dois séculos; e, na falta de documentos e de datações cientificamente rigorosas, não se pode tomar o tamanho destas árvores como prova indiscutível de antiguidade, pois é certo que as camélias no norte de Portugal crescem mais e mais depressa do que noutros países europeus e até do que na sua região de origem (China e Japão).
Seja qual for a sua verdadeira idade, foram já inúmeras as gerações que conviveram com esta árvore. A Sra. Joaquina Moreira, que sempre a conheceu deste tamanhão, conta que em 1930, por causa de um ciclone, o tronco pareceu inclinar-se e teve que ser escorado com um pilar de granito. Quando se quis remover o pilar, em 1993, não houve outra solução se não quebrá-lo, pois o seu topo tinha-se incrustado no tronco, onde ainda hoje se mantém. Há alguns anos, a vida da árvore voltou a correr perigo: sem se saber porquê, as folhas começaram a amarelecer e os ramos a secar. Lembrando-se do que lera num livro de jardinagem, a Sra. Joaquina atribuiu a moléstia à prática de regar a árvore com «água choca», como então se fazia às couves no quintal. Supensa a nefasta dieta, a árvore recuperou rapidamente a saúde. Mas a Sra. Joaquina não tem dúvidas, pela sua experiência, de que o que matou a árvore de Vila Boa de Quires foi terem construído uma vacaria mesmo ao lado.
7 comentários :
Uma beleza!!! História com árvore dentro. Abç
Uma maravilha que me traz à memória, de há mais de 40 anos, uma cameleira desse género. Era em Viseu, na "Quinta da Mariazinha", na Estrada Velha de Abravezes.
Nunca mais lá entrei.
Havia uma cameleira dessas dimensões, uma árvore de grande porte, lembro-me muito bem, camélias vermelhas, perto de um poço. Quantas vezes me empoleirei nessa cameleira. Parece que estou a sentir o cheirinho das centenas das suas flores. O chão parecia um tapete.
Se foi preservada, hoje estará um espectáculo digno deste blogue.
Vou tentar que o meu irmão Vitor, que vive na nossa terra, a fotografe...
Boa reportagem. Quantas vezes é que eu já falei daquela cameleira e as pessoas ficam meio desconfiadas a olhar para mim...
António
Até eu, que não sou fã de cameleiras (talvez devido a cá por baixo elas não crescerem assim...), fico impressionada com esta foto. Uma verdadeira gigante das flores!
O_O
A minha de 1,5 m de altura (mto bem medidos) é uma anã! Nem sabia que poderiam ganhar esse porte.
Mas é tb curisoso o conhecimento empirico, de quem preserva o que é seu.
Encantada, como sempre, a ainda mais com esta "jovem" Japoneira. Deixei um apontamento no meu sítio, sobre o vosso livro. Abçs
Hoje foi um dia de sorte para mim pois tive a oportunidade de saber que existe esta maravilha. E não vou demorar muito a tentar que a D. Joaquina me deixe ver tal preciosidade.
O nosso obrigado por comentarem - e um abraço especial à bettips. Ficamos à espera de mais notícias - e fotos, se possível - da japoneira da Quinta da Mariazinha.
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