15/04/2007

As magnólias


Magnólia em Santo Tirso, 3 de Março de 2007

Há magnólias de folhas vivazes, grossas, revestidas de verniz brilhante, espesso e seco. As folhas vão caindo aos poucos, e pelo ano fora deixam no chão um desenho de cores com amarelo, castanho, verde, algumas até mesmo de preto se vestem. A sua ramagem é frondosa, e a árvore chega a ser enorme. As flores brancas fazem-se um pouco rogadas pois é preciso procurá-las com os olhos para as encontrarmos no meio daquela floresta de folhas verdes e duras. Às vezes apetece colhê-las só para as desgarrar daquela ramagem imensa e linda. Na mão parecem mais lindas ainda, o que não acontece com as magnólias de folha caduca, pois a essas temos quase medo de lhes tocar. São estas últimas que anunciam o milagre da Primavera. E vingam-se das suas irmãs dando flores antes mesmo de chegarem as folhas. Em Fevereiro conseguem fechar a porta do tão triste Inverno para nos alegrar. Quem as conhece espreita-lhes a chegada como se faz com as andorinhas: vai-se à janela, pergunta-se ao Sol se está quentinho, rogam-se pragas à chuva que dá viço à planta mas mela as flores… Porém a expectativa é grande, sobretudo porque a vinda da floração não tem dia marcado. Os rebentos vão crescendo compridos bicudos, compactos, mas os ramos sem folhas ainda cheiram a Inverno! Só que os botões não tomam conhecimento e vão procurando antecipar a Primavera alojando-se aconchegados e felizes. Um dia lá vem uma corzinha de flor surgindo do miolo do rebento. É a certeza de que virá breve aquele milagre de espanto, e para isso basta esperar um pouquinho. A árvore cobre-se de flores brancas ou arroxeadas. Pétalas côncavas, primeiro fechando-se numa quase bola, que depois se vai abrindo lentamente. Pétalas que perdem a força, mas não perdem a cor que levam para o chão quando caem. Talvez para se vingarem do Inverno. E cobrindo os ramos sem folhas as flores das magnólias tornam o espectáculo mais milagroso ainda. No Porto vale a pena fazer uma peregrinação visitando as magnólias em flor e tantas ali há!

Vivido desde que há magnólias, escrito em 21-04-2006 por
Maria de Lourdes Álvares Ribeiro [kiki-ribeiro(at)sapo.pt]
Texto enviado por Ana Aguiar

1 comentário :

bettips disse...

E como viver neste Porto cinzento sem o anúncio delas?