12/10/2007

À la carte

At that moment an extremely superior brand of French head waiter manifested himself beside our table, announced his presence with a discrete cough, and led off with, "Madame, messieurs. Tonight Jean-Pierre recommends, for the main course, la poésie de la poitrine du canard aux céleris et épinards crus."

"Poésie..." Hilda sounded delighted and kindly explained, "That's poetry, Rumpole. Tastes a good deal better than that old Wordsworth of yours, I shouldn't be surprised."

John Mortimer, Rumpole (The Folio Society, 1994)



Tendo em conta que a gastronomia japonesa é a mais preocupada com a estética, em cujas receitas se encontram pássaros diáfanos feitos de nabo, lagos de arroz onde se reflectem luas de soja, pagodes de gengibre ou peixes filosoficamente crús, é natural encontrar na longa tradição oleira do Japão pratos que sirvam natureza. No da foto, de porcelana Nabeshima do período Edo (1690-1730), exploram-se vários tons de azul-cobalto para se representar com minúcia um pé de hortênsia, encimado por uma mancha mais escura que sugere uma atmosfera nublada, chuvosa mas serena, açoriana. Há mais prodígios como este na exposição Obras-primas da Cerâmica Japonesa, no Museu Soares dos Reis até 2 de Dezembro.


A propósito, não foram só as criptomérias que emigraram da Ásia para a ilha Terceira, ali se instalaram e têm agora porte e beleza exaltados por todos, apesar dos malefícios ambientais da sua presença. As lindas hortênsias (Hydrangea macrophylla), hoje imagem de marca dos Açores, encontraram nas ilhas o torrão de salinidade variada que lhes permite florir abundantemente, com cores que noutros lugares não se vêem. E por isso transformaram-se num pesadelo: segundo o livro Flora of the Azores, de Hanno Schafer (Margraf Publishers, 2005), já escaparam das bermas de estrada onde foram plantadas e, num esforço conjunto com a conteira (Hedychium gardnerianum), estão a colocar em risco o remanescente da vegetação rasteira endémica das ilhas.

3 comentários :

Paulo disse...

"Teasing our appetite".
Espero poder ir ao Porto antes de a exposição encerrar as portas. E perto do Museu Soares dos Reis há um restaurante japonês óptimo.umqs

Maria Carvalho disse...

E o Museu tem outras iguarias: por exemplo, a ala de Henrique Pousão cresceu, há mais uma obra de Malhoa ("A ilha dos amores") e, no jardim, as camélias sazanka estão carregadas de flores.

Pedro disse...

Que blog interessante cheio de coisas belas
(perdoem-me a banalidade das palavras mas estou encantado com as imagens dos Açores)