A importância de ser simples
Silene nicaeensis - escola primária da Torreira
É uma ilha num mar de areia, uma construção sisuda em cuja fachada branca sobressai o mastro da bandeira e se disfarçam janelas acanhadas e uma porta baixa, com aldraba para crianças e ondas. Vem do tempo em que só meia dúzia de meninos podia ir à escola, num lugar em que o mar era o mestre poderoso e cruel que ensinava a sobreviver. O acesso ao edifício não tem portão, é um passadiço estreito entre dois muretes baixos, altos para as crianças que por ali circulam. Segue a direito, da rua até à porta da escola primária, e impõe-se como a primeira lição: caminhe a eito, não tente emendar o seu destino, lembre-se que é pecado deixar-se seduzir pelo que o rodeia. Aprendizagem difícil porque o jardim da escola é encantador: um enorme quadrado de areia que parece descansar o ano inteiro; para recreio, há por perto outras praias, mais vastas e livres, onde a espuma também brinca e traz búzios para entreter os amigos.
Este jardim, inteiramente natural, abriga inúmeros exemplares da flora dunar, em quantidade e diversidade que por vezes não encontramos em zonas protegidas, como as "escolas privadas" da Aguda ou de S. Jacinto. Caso desta silene, pequenina e fotogénica, de folhagem rubra, cálice-pijama peludinho e pétalas encaracoladas. Já se chamou Nicaea maritima, em alusão a Nice, no sul de França, ou talvez a Iznik (antes Nicaea) na Turquia.
Deveríamos estar felizes por ainda haver destes exemplos de harmonia do saber com o mundo. Mas invade-nos o temor de que algo tão perfeito e diferente possa ser substituído por um moderno relvado ou piso sintético, ou desaparecer soterrado por um tapete de plantas turistas que alugam o recinto até se entediarem com o sol e as férias.
2 comentários :
Ah! Mais um dos que nos enchem os dias. Obrigado.
Obrigada, António. Nós colocamos o aviso «Caixa de comentários aberta» bem à vista para que a encham de opiniões, mas basta um elogio como o seu para que ela se feche corada de contentamento.
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