28/11/2009

Carmim ou carmesim?


Gladiolus carmineus C. H. Wright

For many cultures red is both death and life - a beautiful and terrible paradox. In our modern language of metaphors, red is anger, fire, the stormy feelings of the heart, love, the god of war and power.
Victoria Finlay, Colour (The Folio Sociey, 2009)

O carmesim é uma tonalidade de vermelho com algum azul, intermédia, digamos, entre o púrpura e o escarlate. É a cor de uma tinta extraída das fêmeas prenhes do quermes (Kermes vermilio), um insecto de países da zona mediterrânica que vive no carrasqueiro (Quercus coccifera L.) e no azevinho (Ilex aquifolium L.). Este corante terá sido usado pelos fenícios, mas foi no Império Romano que granjeou fama; e com as regras que o Papa Paulo II decretou em 1467 sobre a indumentária dos cardeais, passou a ter também significado religioso: representa um apego à fé que nem a ameaça de morte enfraquece. Felizmente surgiram entretanto corantes sintéticos idênticos, e este modo cruel de produzir vermelho caiu em desuso.

Outro pigmento de origem animal, igualmente famoso e caro, é o carmim, matiz que se confunde com o vermelho-rubi. Retira-se das fêmeas de cochinilha (Dactylopius coccus), um insecto mexicano, branquinho como algodão, que se alimenta de um cacto de frutos comestíveis, a Opuntia ficus-indica (L.) Mill.. Há provas de este corante vermelho, mais estável à luz que o carmesim, ter sido utilizado pelos Astecas e Incas. Foi depois divulgado na Europa pelos espanhóis, que guardaram ciosamente durante anos o segredo do seu fabrico. Ainda hoje se produz em plantações de Opuntia na América do Sul e ilhas Canárias.

O carmim, conhecido em linguagem técnica como Natural Red 4, é o aditivo E120 usado em cosméticos, tintas, xaropes, comprimidos, iogurtes, compotas, gelatinas, bebidas alcoólicas ou carnes fumadas.

A flor das fotos, apesar do nome, é de cor magenta.

8 comentários :

Gi disse...

Maria, essa cochinilha poderá ser parente da que na primavera passada me atacou uma Schefflera?

Se produzisse carmim, já teria alguma utilidade ;-)

Maria Carvalho disse...

Se a sua Schefflera pudesse passar o Inverno no exterior, teria menos pragas a importuná-la porque a Gi poderia dar uso às cochinilhas trazendo umas joaninhas esfomeadas para o jardim.

io disse...

Oh Maria, que poste tão encantador e entusiasmante. Estou, mais uma vez embasbacada - estado natural nas minhas visitas ao Dias :-) - com as coisas absolutamente essenciais e primordiais que aprendo convosco. Este blogue, tal como o caminhos da memória - embora por outras razões - deveria ser de leitura obrigatória nas escolas. Pela parte que me toca: muito, muito obrigada!

Gi disse...

Ela passa a vida toda no exterior, Maria, eu tenho a sorte de ter um jardim. Se as joaninhas comerem as cochinilhas fico toda contente, até porque gosto muito de joaninhas.

Maria Carvalho disse...

Gi: Eu sei que tem um jardim (fantástico, a julgar pelas imagens com que nos presenteia) e, se eu fosse uma cochinilha, também me aninharia lá. Como a Schefflera é planta de clima tropical, que precisa de ser resguardada do frio e do vento seco, e que exige solo bem drenado e muita sombra, pensei que a tivesse numa estufa ou dentro de casa. O mais certo é que as joaninhas que o seu jardim atrai não acabarão com a praga das cochinilhas, mas reduzem-na consideravelmente e mantêm as suas plantas mais saudáveis.

Maria Carvalho disse...

io: Obrigada por ser tão gentil connosco.

Gi disse...

Maria, parece que Antonio Stradivari terá usado carmim de cochinilha no verniz que punha nos seus violinos: ver aqui (quase no fim).

Maria Carvalho disse...

Que notícia interessante, Gi, obrigada. E pode ser que na Nature revelem que tipo de cochonilha (e qual a planta hospedeira) produzia tal pigmento. Estaremos atentos.