05/11/2009

É de subir pelas paredes



Anredera cordifolia (Ten.) Steenis

Enquanto enreda os talos carnudos e rubros nas plantas vizinhas com mão de gato, jurando nunca cair na tentação, esta liana sul-americana sobe depressa na vida até atingir os 7m. Se mora em recanto onde o vento não é cortante, o que detesta, cria tubérculos (comestíveis e, diz-se, com propriedades antivirais) que lhe facilitam a retórica e a dispersão até em água que passarinho não bebe. Apreciada como planta ornamental para muros e sebes, e beneficiando das acções que têm vindo a ampliar os ambientes ruderais que lhe convêm, tornou-se uma praga em alguns habitats, como as ilhas dos Açores e das Canárias, onde consta do top 25 das plantas vasculares exóticas invasoras mais preocupantes. Na Madeira e Porto Santo a sua presença é igualmente nociva, como atesta a designação vernácula parra-da-Madeira.

Sempre com o coração na boca, pois tem um em cada folha, esta herbácea vivaz rizomatosa perfuma-se no Verão e Outono com o aroma de amêndoa que impregna as suas flores agrupadas em racimos de cerca de 20cm de comprimento. Tal fragância é pura e simplesmente um capricho, pois as flores são funcionalmente masculinas e não há, em geral, produção de sementes viáveis. A reprodução é assexuada, assegurada por centenas de cormos por ano, os tais propágulos aéreos ou subterrâneos que se disseminam por hidrocoria.

O género Anredera tem uma dezena de espécies trepadeiras. Esta já se chamou Boussingaultia cordifolia Ten., em homenagem singela ao químico francês Jean-Baptiste Joseph Boussingault (1802-1887), célebre pelas descobertas sobre a absorção de azoto pelas plantas.

[Lugares-comuns e frases feitas extraídos de O pai dos burros, de Humberto Werneck, livro vindo a lume em 2009 pela Arquipélago Editorial, Porto Alegre]

1 comentário :

Anónimo disse...

Legal! gostei do texto. Parabéns!!!