29/08/2011

Três semanas na serra


Barragem do Viriato — Penhas da Saúde

Embora não tenhamos guardado o nome do vencedor, este ano procurámos estar informados sobre a Volta a Portugal em Bicicleta. As visitas que planeávamos à Serra da Estrela explicam este interesse um pouco displicente: é que não queríamos de todo apanhar a caravana velocipédica na subida à Torre. Assim, as nossas visitas aconteceram todas antes de 13 de Agosto. Ainda lá não voltámos depois disso porque convém dar tempo para que o tradicional lixo da berma da estrada (garrafas de plástico e restos de merendas) seja recolhido.

Em cerca de meia dúzia de visitas espalhadas por quatro meses, e com a preciosa ajuda de alguns amigos, foi tanto o material acumulado que nos vemos compelidos a reservar não uma nem duas, mas três-semanas-três para um especial Serra da Estrela. Sem intenção de respeitar a ordem cronológica, sucede ainda assim que as fotos deste primeiro fascículo trazem as cores da Primavera — que, no patamar intermédio da serra, atinge o seu auge na primeira quinzena de Maio, com a urze e o tojo a comporem o característico mosaico amarelo e roxo. Lá para baixo já os narcisos se despediram; mais acima, ainda há gelo por derreter.


Phalacrocarpum oppositifolium (Brot.) Willk.

Juntando-se ao mato bicolor e às discretas violetas amarelas, uns vistosos malmequeres brancos completavam a paleta primaveril. Escaldado por episódios anteriores, o fotógrafo, não querendo arriscar uma identificação errada, esteve tentado a ficar-se pela contemplação, mas os malmequeres pareceram-lhe tão especiais que acabou por apontar-lhes a objectiva. Em boa hora o fez: o Phalacrocarpum oppositifolium é um endemismo ibérico que, em Portugal, surge apenas nas montanhas do norte e do centro, em regra não abaixo dos 1000 metros de altitude. E o iberismo não se fica por aqui, já que a única outra espécie do género, Phalacrocarpum hoffmannseggii (que se distingue da anterior por ter folhas menos recortadas), é também um exclusivo peninsular, restrito no nosso país a uns poucos locais em Trás-os-Montes.

Pela folhagem e pela cor das inflorescências (que têm até 5 cm de diâmetro), o Phalacrocarapum oppositifolium poderia confundir-se com a camomila (Matricaria recutita L.) e com outros vulgares malmequeres de flor branca. Uma distinção essencial, porém, como aliás indica o epíteto específico, é ele ter folhas opostas, enquanto que a generalidade das asteráceas as tem alternadas. Além do mais, as brácteas das inflorescências têm um friso acastanhado e penugento que é distintivo (ver quarta foto).

Indica Franco na sua Nova Flora de Portugal que o P. oppositifolium frequenta fendas de rochas e encostas pedregosas. Na realidade, as suas preferências de habitat são mais variadas, pois na Serra da Estrela ele também se encontra, e com alguma abundância, em orlas de bosques.

2 comentários :

A SILVA disse...

Olá Viva Paulo,

Sou um assíduo frequentador do vosso blog através do qual tenho aprendido muito da flora de Portugal.

Agradeço muito esta vossa iniciativa de darem a conhecer a flora da minha, da serra de todos nós. Uma das mais magníficas montanhas de Portugal.

Aguardo com muito interesse os seguintes posts.

Abraço,

Alexandre Silva

P.S. (Saída da SPB ao Marão)

Paulo Araújo disse...

Olá Alexandre, e muito obrigado pela visita e pelo comentário.

Com uma possível excepção (que ficará para a terceira semana) não vamos mostrar nada que o Alexandre não tenha visto muitas vezes. E a Gentiana lutea (o Alexandre prometeu-nos falar dela num blogue aí da vizinhança) fica fora do pacote, pois só lhe vimos as folhas (que desapareceram entre duas visitas consecutivas, certamente comidas pelas cabras ou arrancadas pelos pastores).

A flora da Serra da Estrela é maravilhosa e, em muitos casos, única em Portugal. A nossa amostra será pequena, mas esperamos que significativa.

Abraço,
Paulo