Cruzes do Marão
Cruciata glabra (L.) Ehrend. subsp. hirticaulis (Beck) Natali & Jeanm.
No fabrico das inflorescências, a natureza tem-se entretido a experimentar formas, qual delas a mais atraente. Se, com frequência, opta por uma flor única, grande, vistosa e perfumada, no topo de uma haste, noutras ocasiões recorre a espigas, capítulos ou cimeiras de flores que, sendo minúsculas, chamam a si outro tipo de polinizadores e, no conjunto, seduzem como uma flor sublimada. Mas há variantes desta doutrina, e até sistemas mistos.Cruciata laevipes Opiz
As plantas das fotos também têm uma haste onde arrumam as flores (muito mais altas na C. laevipes), mas elas dispõem-se por andares, protegidas pelos verticilos de folhas — os saiotes que já encontrámos noutras plantas da família Rubiaceae. Deste modo, beneficiam das vantagens de uma inflorescência ramosa enquanto garantem a cada polinizador algum recato na refeição, evitando que eles se acotovelem à volta do mesmo prato. A solução parece ter agradado: além da C. laevipes e da C. glabra, há ainda na Península Ibérica outra espécie deste género com aspecto idêntico, embora anual, a C. pedemontana (nativa do centro e sul da Europa, norte de África e parte da Ásia), mais hirsuta e de menor porte.
As flores das cruciatas são hermafroditas ou (por vezes, as mais exteriores) masculinas. Nas imagens nota-se que a haste tem secção quadrada e é menos pubescente na C. glabra. Contudo, estas herbáceas distinguem-se mais facilmente por outro detalhe: as flores da C. laevipes (que ocorre em prados e matas pouco densas na Europa e Ásia) têm duas brácteas, que a versão C. glabra (nativa do sul da Europa, onde aprecia sítios secos de montanha) dispensa, por razões de eficiência floral que desconhecemos.
Por cá, este género é mais abundante na metade norte, sendo a C. pedemontana rara: a maioria dos registos da sua presença no país são da Terra Quente, no nordeste.
4 comentários :
Olá
Como 'esconderam vocês os v/ conhecimentos'!?
Eu ..com estas fotografadas desde 2009 no Rio Baceiro (Montesinho) e na Ribeira de Frieiras (a tal mesma ribeira onde vi o Symphytum officinale?)e depois num lameiro em Montalegre em 2011 e mesmo tendo visto o Flora-On duvidei!
O engraçado é a de Montalegre apresentar,como uma aqui,uma menor inflorescência,que me fez duvidar estar a olhar para a mesma espécie.
Obrigado!
Carlos M. Silva
Olá. O teu arquivo de descobertas é notável. Uma das que viste não será a C. pedemontana? É mais peludinha, de flores muito mais pequenas, com as pétalas a formar tacinhas.
Olá Maria
O meu arquivo não é bem isso..é mais caótico por que organizado por rotas/caminhadas ..com muitas por identificar e muitas outras com a ID tentada,..mais saboroso que um queijo suíço;ainda bem que as plantas me não pressionam,secretamente,com sms para lhes atribuir um nome e uma função!
O que me espanta,porque ainda sem Alzheimer,é conseguir ainda orientar-me sobre o que fotografei e conseguir procurar!
A de Montalegre é a C. glabra;a do Baceiro e Frieiras é a C. laevipes,e as de Frieiras eram centenas,senão milhares! misturadas com o tal S.officinale e com Pentaglottis sempervirens.
Quanto à que dizes acho que não mas sei lá..terei que ver as desses trilhos;enviara ao Naturdata à um mês estas que aqui colocaram (a uma delas dera-lhe o nome? de Valantia hispida? porquê? sei lá! vira em algum dos livros! Semelhanças!)mas já corrigi o que enviei com óbvios agradecimentos a vocês!
Bem ..as que vi acho só poderem ser estas!Tenho uma Rubiaceae(?) obtida este sábado em M.Douro enquanto fotografava o A. meonanthum(?), em forma de taça mas é branca!E não me parece ser muito peluda!
Abraços e..continuem por cá a dar identificações!
Carlos M. Silva
Belíssimo post de mais uma planta que nunca consegui observar. Obrigado por estes ares do norte!
AC
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