18/05/2013

De Sintra para o mundo


Saxifraga cintrana Kuzinsky ex Willk.


Apesar de ser endémica de Portugal, restrita, tanto quanto se sabe, às serras de Sintra, Montejunto, Aire e Candeeiros, esta planta foi primeiramente descrita por um botânico alemão, em 1889, na revista Oesterreichische Botanische Zeitschrift. Uma desatenção dos botânicos portugueses: Coutinho também a reconheceu como novidade para a flora portuguesa, que designou por Saxifraga hochstetteri, mas apenas em 1910. Heinrich Moritz Willkomm (1821-1895), que estudou a flora ibérica em duas longas visitas a Portugal (de 1844 a 45) e Espanha (em outras duas ocasiões, cerca de trinta anos mais tarde), deixou um legado notável de plantas colectadas e uma mão-cheia de cartas a Júlio Henriques (1838-1928) que podem ser consultadas na Universidade de Coimbra. No artigo da revista austríaca, Willkomm traça o retrato de uma planta que terá visto na serra de Sintra, florida em Maio, a que chama Saxifraga Cintrana Kuz., atribuindo o mérito da descoberta a P. A. Kuzinsky, cuja esposa Willkomm homenageia na designação de um outro endemismo português, o Omphalodes kuzinskyanae Willk.

Esta saxífraga é perene e rupícola, de fendas de rochas calcárias ou clareiras de matagais pouco desenvolvidos, tirando sustento das pequenas bolsas de terra rica que se acumulam entre as rochas. No aspecto geral faz lembrar a S. granulata L., a qual, porém, é mais esguia, não exige substratos calcários e tem a face superior das pétalas sem pêlos glandulosos (repare na 4ª e 6ª fotos).

A S. cintrana é uma planta baixinha (10-30 cm) de caule erecto e ramoso. As folhas na base têm pecíolo longo e são reniformes e pubescentes. As folhas caulinares são de formato parecido mas mais pequenas e quase sésseis. No topo da haste, entre Março e Junho, surge uma panícula densa de flores com sépalas ovadas e pétalas brancas com menos de 1 cm de diâmetro onde se notam três nervuras de tom lilás ou esverdeado.

Sendo tão rara e especial mal se aceita que esteja ameaçada pela extracção de inertes, pela construção de infra-estruturas e pelos veículos todo-o-terreno que sobem pelas encostas das serras sem olhar ao que esmagam.

1 comentário :

bea disse...

Tão bonita! como é que uma rupícula consegue pétalas com cor tão de pintura e aquele arqueado de dobra ligeira que enternece qualquer. Mas consegue.
Obrigada pela amostra das plantas que meus olhos distraídos nunca observaram em Sintra:)