25/06/2013

Goivo pardo

Matthiola fruticulosa (Loefl. ex L.) Maire


As plantas do género Matthiola são fáceis de identificar. As folhas e os caules são penugentos, e as flores, entre o rosa e o roxo, têm quatro pétalas, como é regra na família Cruciferae, de margens muito enrugadas e por vezes reflexas. A das fotos, com flores de cor púrpura quando frescas, de matiz misturado entre o violeta e o amarelo pouco depois, esconde-se bem nos matos rasteiros de solo arenoso em cujas orlas ela gosta de vegetar. Não fosse ser abundante, talvez não déssemos por ela; é moderamente alta (cerca de 40 cm; fruticulosa significa precisamente que é um arbusto pequeno), de hastes ramificadas providas de glândulas amarelas.

Mas há uma diferença relevante entre as várias espécies do género: algumas são anuais, outras perenes (como a M. fruticulosa) e outras ainda bienais. Admitindo como certo que uma etiqueta genérica une plantas com um ancestral comum, por que razão há espécies próximas com ciclos de vida tão distintos? Não pode ser só da ecologia: a M. tricuspidata e a M. sinuata ocorrem ambas em solos arenosos do litoral, e a primeira é anual enquanto a segunda é tendencialmente perene. Talvez as espécies saibam jogar com a sua capacidade de migrar de um registo anual para um perene, ou vice-versa, correspondendo o bienal a um período de transição. Imaginamos uma planta de beira-mar a colonizar com sucesso um habitat igualmente seco e pedregoso mas mais estável, o que lhe permite ganhar porte e aspirar a uma vida mais longa. E admitimos que uma mudança no clima possa ser culpada pelo abalo provocado numa espécie amiga do gelo de outrora e que nos dias de hoje, mais quentes, não resiste a mais do que uma floração. Sobram contudo dúvidas neste devaneio. Se nos parece que uma planta perene está mais bem adaptada e tem mais chances de se disseminar, também se pode legitimamente discutir esta hipotética vantagem, afirmando que ser capaz de programar uma data fixa para o fim é um avanço, ou uma rebeldia, a que poucas espécies se conseguiram alçar.

A Flora Iberica distingue duas subspécies de M. fruticulosa: a M. fruticulosa subsp. fruticulosa, das fotos, que já se chamou M. tristis e é nativa do sul da Europa, norte de África e oeste da Ásia (Chipre e noroeste da Turquia), onde parece mostrar alguma preferência por calcários; e a M. fruticulosa subsp. valesiaca, dos Alpes e Pirenéus, que não consta existir em Portugal.

3 comentários :

bea disse...

O termo "goivo" sei lá porquê, lembra-me logo facas afiadas, objectos cortantes. Não os aprecio grandemente. Mas conheço-os bem:) e neles não me cortei nunca.

Bom Dia

Carlos M. Silva disse...

Olá
Já houve ocasiões em que por casa cheguei a ter alguns goivos cultivados; e de facto, esses, são das plantas que mais «belo» cheiro exalam!
E ..nada sabendo de ecologia das plantas ..mais uma vez, aparecem soluções como enrugamento das margens pétalas , suponho, para aumento da área de exposição (as pétalas, como folhas modificadas, suponho que ainda respirem!)
Um menu completo de soluções ..para a sobrevivência.

Abraço
Carlos M. Silva

Maria Carvalho disse...

bea: Deve ser do «oi», como em «foice».

Carlos: A natureza, depois de acabado o trabalho de casa, diverte-se a experimentar recortes e a deixar-nos perplexos.