08/07/2013

Gigantes na sombra

Diplazium caudatum (Cav.) Jermy



Todas as plantas fotossintéticas precisam de luz, mas algumas toleram mal a exposição directa ao sol. Por isso se refugiam em bosques densos, abrigadas pelas copas entrelaçadas de árvores sempre-verdes, ou se escondem em ravinas estreitas que os raios de luz são incapazes de devassar. Nesses lugares umbrosos, onde reina a humidade, nem a passagem da noite para o dia nem o correr dos meses parecem trazer grandes oscilações de temperatura. Dir-se-ia que essas plantas receosas de sol deveriam definhar como donzelas condenadas à clausura num convento; ou que, mesmo gozando de relativa saúde no modo de vida que adoptaram, nunca seriam plantas de porte considerável.

A todas estas ruminações do senso comum fornece o Diplazium caudatum um vigoroso contra-exemplo. Deste feto açoriano, que também existe na Andalúzia (Algeciras) e nos arquipélagos da Madeira, Canárias e Cabo Verde, se pode dizer que quanto mais cerrada for a penumbra melhor ele se sente. No entanto, com as suas frondes que podem ultrapassar 1,5 m de comprimento, ele pertence com inteiro mérito à primeira divisão dos fetos macaronésicos, onde emparelha com gigantes como a Woodwardia radicans e a Culcita macrocarpa.

Integrando a família do feto-fêmea, já se chamou Tectaria caudata, Allantodia umbrosa, Aspidium umbrosum e Athyrium umbrosum. Além do tamanho, outros detalhes o distinguem do feto-fêmea: possui um rizoma rastejante, e por isso as suas folhas não estão agrupadas em tufos; as pinas e a generalidade das pínulas (divisões primárias e secundárias da folha) têm um remate longo e estreito, em jeito de cauda; e a parte inferior do pecíolo é de um negro brilhante (a do feto-fêmea é amarelada ou de um castanho avermelhado).

Habitante dos bosques açorianos primordiais, que quase desapareceram do arquipélago, o Diplazium caudatum soube adaptar-se aos novos tempos e é hoje residente habitual das plantações de criptomérias e das florestas de incenso (Pittosporum undulatum). Só não consegue competir com as avassaladoras conteiras ou rocas-de-velha (Hedychium gardnerianum) que monopolizaram largas extensões de sub-bosque da floresta açoriana. É um feto que está presente em todas as ilhas, sobretudo a altitudes entre os 150 e os 600 metros, mas é mais frequente nas Flores, Faial e Santa Maria.

1 comentário :

bea disse...

Gosto de fetos. Lembro o Buçaco onde existe uma fonte dos fetos que me maravilha sempre. Existe por lá uma frescura que apetece nestes dias de calor. E, contudo, não sei quando ou se voltarei a vê-la - mesmo seguindo as setas, nem sempre a encontro - fora dos olhos da imaginação onde continua verde e fresca como talvez já nem seja.
Bom Dia