Pomba em pé
Ammi seubertianum (H. C. Watson) Trel.
Embora possam ser plantas vistosas e de grande tamanho, as umbelíferas padecem de uma uniformidade que as torna indistinguíveis aos olhos da maioria dos leigos. Mesmo os naturalistas e botânicos profissionais tardam por vezes em dar-lhes a merecida atenção. A história da Angelica lignescens, uma gigantesca umbelífera açoriana confundida durante mais de um século com o Melanoselinum decipiens, um endemismo madeirense que com ela pouco se parece, é ilustrativa dos equívocos a que a taxonomia das umbelíferas está sujeita.
O género Ammi, que inclui seis espécies de plantas anuais ou bienais nativas da região mediterrânica, Macaronésia e Médio Oriente, tem boa parte do seu contingente concentrado no arquipélago açoriano. Nada menos que três espécies endémicas dos Açores foram registadas, todas elas conhecidas como pé-de-pomba: A. trifoliatum, A. hunti e A. seubertianum. As três são listadas tanto no Portal da Biodiversidade dos Açores como na Checklist da Flora de Portugal. Sucede que as duas últimas, apesar de descritas originalmente pelo mesmo H. C. Watson, são consideradas por várias fontes como uma e a mesma espécie, tendo prioridade a designação A. hunti. Hanno Schäfer, na sua tese de 2003, defende igualmente que só existem duas espécies endémicas de Ammi nos Açores, mas que elas são A. trifoliatum e A. seubertianum. A mesma opinião é seguida numa listagem de endemismos açorianos publicada em 2006 por Carlos Aguiar, J. A. Fernández Prieto e Eduardo Dias. Finalmente, J. do Amaral Franco, no vol. 1 (de 1971) da Nova Flora de Portugal, reconhece uma única espécie açoriana, a que chama A. hunti.
A opinião mais recente dos estudiosos da flora açoriana inclina-se pois para a inexistência no arquipélago de um terceiro endemismo dentro do género Ammi. De facto, mesmo que o nome A. hunti persista, talvez por equívoco, em algumas listagens, não há fotos de plantas dessa espécie e ninguém parece saber onde encontrá-la. Por contraste, e apesar da opinião em contrário de Franco, há boas fotos e descrições inequívocas do A. trifoliatum e do A. seubertianum, e as duas espécies têm distribuição bem conhecida.
O Ammi seubertianum — dedicado ao botânico alemão Moritz August Seubert (1818–1878), que nunca visitou os Açores mas foi o autor, em 1844, da pioneira Flora Azorica — é bienal, atinge de 50 cm a 1 m de altura, floresce na Primavera e início do Verão, e apresenta folíolos grossos, quase suculentos; o A. trifoliatum, também bienal, é mais alto (pode chegar aos 2 m) e tem folhas basais mais divididas, com folíolos finos. O primeiro, com uma distribuição sobretudo costeira, é comum na metade oriental de Santa Maria; tirando essa ilha, só parece existir no Pico. O segundo, mais disseminado, ocorre no interior de sete ilhas (Flores, Corvo, Faial, Pico, Terceira, São Jorge e São Miguel) a altitudes entre os 400 e os 700 metros, mas só é comum nas Flores, e no Faial está no limiar da extinção.
4 comentários :
Duas perguntas:
1)as plantas que mostro aqui, "http://imagenscomtexto.blogspot.pt/2013/08/comentarios-breves-e-flores-na-beira-rio.html" em foto esborratada tirada com o meu telemóvel serão aparentadas destas?
2)verificar o ADN de cada planta não facilitaria evitar todas essas confusões na classificação? Existem ainda obstáculos económicos para verificar o ADN em plantas sem (ou com pouco) valor comercial?
Estive há 3 semanas na Ilha de S. Miguel e tive ocasião de verificar in situ a variedade e vigor das espécies botânicas que por lá se vêm.
Fotografei algumas, muito pequenas, mas atravesso uma fase de muito difícil concentração para me debruçar sobre os seus nomes populares e científicos, coisa que traz muito interesse às nossas observações.
Os textos e as fotos que aqui encontramos continuam a ser extraordinários. Parabéns.
Obrigado pelos comentários.
António: se mostrar fotos de algumas dessas plantas no seu blogue, avise que nós podemos tentar ajudar na identificação. A grande maioria das plantas que se vêem nos Açores existe também no continente.
J.J. Amarante:
A planta que se vê melhor nas suas fotos é também da família das umbelíferas (também chamadas apiáceas), mas, dentro dessa famíla, não me parece que seja parente próxima dessa planta açoriana. Julgo que se trata da Oenanthe crocata, uma planta muito venenosa que é comum nesses habitats.
Quanto à sua segunda pergunta: não sou botânico nem biólogo, mas julgo que o estudo genético das plantas, apesar de já ser quase rotineiro, ainda gasta tempo e dinheiro. Como a flora nativa dos Açores é relativamente pequena, não tardará que todas as espécies estejam exaustivamente estudadas, mas ainda não atingimos essa fase. A dificuldade neste caso, porém, é a persistência de uma espécie fantasma nas listagens da flora açoriana. É difícil obter o DNA de uma planta que não se sabe bem como é nem onde existe.
Fiquei com a sensação de já ter visto esta planta. Como porém sou uma observadora leiga e algo preguiçosa para designações académicas,limito-me ao aspecto sensorial; e é possível que não, que apenas semelhante. A beleza natural de tudo que nasce e cresce por si faz-me grata ao planeta e até um suposo deus que o tenha engendrado, um acaso decerto divino - eu, por acaso nada faria de jeito, se até querendo me saem as coisas ao contário - e a quem a mostra.
Obrigada deus. acaso. o que for. e amostrantes.
Tenham um bom dia
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