20/05/2014

Teoria dos três nervos


Moehringia trinervia (L.) Clairv.
As margens do rio Minho em Melgaço são a secção de perdidos e achados da flora portuguesa. Há uma ervita listada nas floras de Portugal que há anos ninguém vê e que se receia ter desaparecido do nosso país? Então vamos a Melgaço, expomos o nosso problema às águas do rio ou à folhagem rumorejante dos carvalhos, damos uma volta para espairecer, et voilá que sem aviso prévio a desejada se materializa à nossa frente. Aconteceu isso com a Nymphoides peltata, com o Thelypteris palustris, com a Inula salicina, com a erva-dos-três-nervos (nome inventado para a planta de hoje), e com várias outras que ainda havemos de contar. E a milagrosa eficiência do serviço público assim prestado à flora portuguesa não se deve por certo à presença sufocante da mal chamada e daninha erva-da-fortuna (Tradescantia fluminensis), que na verdade é uma máquina de guerra preparada para liquidar toda a concorrência.

A Moehringia trinervia, cujo epíteto específico se refere às três nervuras longitudinais bem visíveis em cada folha, e que se distribui pela Europa, Ásia e norte de África, é uma planta anual, por vezes perene, com hastes ramificadas, erectas ou ascendentes, capazes de atingir os 40 cm de altura. As flores, que aparecem entre Abril e Julho, são pequenas, de 5 a 6 mm de diâmetro, e assemelham-se, pelas suas pétalas inteiras, às de outras cariofiláceas, em especial às do género Arenaria (nos géneros Cerastium e Stellaria, representados na nossa flora por numerosas espécies, as pétalas são fendidas na ponta).

Em Portugal a erva-dos-três-nervos parece restringir-se à metade norte do território continental. Além do Minho e Trás-os-Montes, há registos antigos da sua presença na Beira (Litoral, Alta e Baixa). Frequenta bosques sombrios e, de preferência, bem conservados, o que não é por certo o caso daquele em Melgaço onde a encontrámos. Talvez esteja ali apenas de passagem para a Galiza, antes de abandonar de vez o nosso país.

1 comentário :

bea disse...

O texto está um primor! Mas a ervita merece.
Obrigada