07/03/2015

Viola vicentina


Viola arborescens L.


Nos canteiros que enfeitam algumas ruas e jardins do Porto é frequente colocarem violetas de folhagem compacta, flores grandes, dobradas (tanto que nem se nota a simetria bilateral das cinco pétalas), de coloração variada (roxas, vários tons de azul, amarelas, brancas e até bicolores ou tricolores) e bonitas riscas na pétala inferior. Formam tapetes a cuja formosura poucos ficam indiferentes — vejam-se as várias designações comuns das violas: amor-perfeito (pansy, pensée, pensamiento), violeta, benesse-das-beiras, benefes (violeta de bosc). São cultivares obtidos em hortos (quase sempre estrangeiros) por hibridação entre espécies de Viola mais apreciadas, em particular a perfumada V. odorata, as que têm ampla reputação como medicinais, ou as que se utilizam em culinária ou para aromatizar licores. Os funcionários das câmaras que cuidam do ajardinamento público mudam-nas amiúde, simulando desse modo o efeito do pastoreio nos prados e a renovação dos bosques que as violas apreciam.

Não é que não haja por cá violetas autóctones que se pudessem usar para ornamentar tais torrões: afinal, das cerca de seiscentas espécies da região de clima temperado no mundo, a Península Ibérica tem registo de 29 e em Portugal continental contam-se umas 12. Mas, de facto, as nossas violetas mais bonitas são exigentes quanto a solo, temperatura e humidade, e boa parte delas forma plantas quase rasteiras, pouco resistentes à poluição das cidades, com flores tão pequenas que parecem nascer directamente do chão.

A violeta das fotos é das mais raras que ocorrem em terras lusas e tem características peculiares: é quase um arbusto e a floração decorre essencialmente no Inverno. Como habitat, exige um mato ralo no litoral com substrato calcário ou areias de natureza básica. Dir-se-ia que não é pedir muito, mas, apesar de nativa da região mediterrânica ocidental, em Portugal restringe-se à península de Sagres. É fácil detectá-la na berma da estrada que conduz ao Cabo de São Vicente, mas estranhamente é quase só aí que ela ocorre. Em vez das folhas cordiformes que encontramos nas espécies mais vulgares, as da V. arborescens lembram (em ponto grande) as da V. kitaibeliana. As flores são de um roxo pálido, ou quase brancas, com estrias de cor lilás.

Um último reparo: as violetas de ter por casa que se vendem nas floristas, ditas violetas-africanas, não pertencem ao género Viola: são variedades de Saintpaulia ionantha, espécie de herbáceas perenes com folhas peludinhas, nativas das regiões elevadas de África.


Ponta de Sagres vista do cabo de São Vicente

1 comentário :

Francisco Clamote disse...

Obrigado pela dica. Já andei por Sagres e arredores à procura dela. Sem êxito. Fiquei agora a saber onde a poderei encontrar.