25/04/2015

Bagas de sândalo


Osyris lanceolata Hochst. & Steud.
Ao contrário do que acontece com banqueiros e outros especuladores, o parasitismo entre plantas não é muito propício à ostentação. As plantas parasitas são, na sua maioria, pequenas herbáceas com um período de floração curto, ditado apenas pela necessidade de perpetuar a espécie. No resto do ano elas remetem-se a uma invisibilidade que condiz melhor com a sua índole oportunista.

Esta regra geral está, no entanto, sujeita a numerosas excepções que também têm o seu paralelo entre os humanos. Quem testemunha o estilo de vida de um milionário julga que ele terá trabalhado para acumular riqueza; e quem vê árvores ou arbustos pujantes acha que eles, através da fotossíntese, se alimentaram sozinhos para atingir tais dimensões. No entanto, há árvores e arbustos parasitas ou, pelo menos, hemiparasitas. O prefixo hemi, que significa metade, indica que o vegetal em causa, além de sugar várias das plantas que lhe estão próximas, dispõe de folhas verdes e é por isso capaz de realizar alguma fotossíntese. As duas fontes de alimentação, a própria e a roubada, contribuem para a dieta em proporções muito variáveis, havendo plantas hemiparasitas que, em percentagem, são quase totalmente parasitas, e outras que, em caso de necessidade, podem sustentar-se sem ajuda (um pouco como quem perde a fortuna num investimento azarado e descobre, com surpresa, que pode trabalhar para ganhar a vida).

Este Osyris lanceolata — a que, apesar de ser também nativo de Portugal, chamamos sândalo-africano por se encontrar amplamente distribuído no quadrante sudeste desse continente — é um arbusto hemiparasita muito ramificado e de consideráveis dimensões, que amiúde excede os 2 metros de altura. Não sabemos de que grau de parasitismo é culpado: certamente menos do que o seu primo afastado Arceuthobium azoricum (espigos-de-cedro), mas talvez mais do que a extraordinária árvore-de-Natal australiana (Nuytsia floribunda), capaz no estádio adulto de sobreviver mesmo quando toda a vegetação à sua volta é extirpada.

Componente comum dos matos mediterrânicos algarvios, mais frequente perto da costa, o Osyris lanceolata substitui, no sul do país, o seu congénere O. alba, que ocorre no resto do território e tem preferência por lugares mais húmidos e abrigados. Os dois sândalos distinguem-se pela envergadura, com o O. lanceolata a vencer o O. alba em quase todos os parâmetros: na altura (o O. alba raramente ultrapassa 1 metro), no tamanho das folhas (as do O. alba são estreitas, quase lineares, e têm metade do comprimento das do O. lanceolata) e no tamanho dos frutos (os do O. alba são distintamente menores).

O nome sândalo evoca a famosa madeira perfumada originária da Índia, e pode parecer um despropósito usá-lo para designar um simples arbusto. Mas o sândalo-da-Índia (Santalum album) e o sândalo-africano (Osyris lanceolata), além de pertencerem à mesma família botânica, partilham muitas das propriedades aromáticas, tantas que o último é tradicionalmente usado em África para produzir óleo de sândalo.

1 comentário :

bea disse...

Não simpatizo com parasitas seja qual for a sua natureza (há parasitas benéficos, mas desgosto na mesma, pronto). No entanto, o sândalo, até pelo nome, sugere-me algo calmante. E pode mesmo o meu palpite sem base científica ser um engano