10/10/2015

Com o frio nas orelhas



Sedum candollei Raym.-Hamet


Excluindo as quatro espécies de Sedum que são endémicas do arquipélago da Madeira, o que deste género se conhece em Portugal pode ver-se nesta página da Flora-on, onde apenas faltam registos de Sedum candollei. De acordo com Amaral Franco na Nova Flora de Portugal (que usa a designação Mucizonia sedoides (DC.) D.A. Webb.), deveríamos encontrá-lo em fendas de rocha e margens secas de lagoas na serra da Estrela, em solos pedregosos e siliciosos acima dos 1800 metros; mas a verdade é que nunca o vimos por cá. Ocorre em zonas montanhosas da Península Ibérica e de França, e a Flora Ibérica indica várias cordilheiras ibéricas onde há notícia da sua presença. As fotos são de uma população numerosa que formava em Julho passado um tapete rosado no topo do Pico Tres Mares, na Cantábria.

Esta herbácea é anual e a floração decorre essencialmente no Verão. Note-se como as flores são erectas e se agrupam em cimeiras terminais densas e vistosas. Esta é uma espécie morfologicamente próxima do S. andegavense, S. brevifolium e S. pedicelatum, mas as corolas sésseis rosadas (lembram as do S. maireanum), de pétalas mais compridas do que o tubo, distinguem-na perfeitamente das outras três.

A designação Sedum candollei, proposta em 1929 pelo botânico francês Raymond-Hamet (1890-1972) homenageia o botânico suiço Augustin Pyrame de Candolle (1778-1841), um dos professores de botânica de Karl Wilhelm von Nageli. Ao mesmo tempo, o epíteto assinala que a primeira descrição desta planta se deve precisamente a A. de Candolle, que lhe chamou, em 1808, Cotyledon sedoides. Ironicamente, à luz das regras de taxonomia estabelecidas pelo Código Internacional de Nomenclatura Botânica, o nome Sedum candollei não é actualmente considerado válido. Ao leitor curioso sobre os meandros deste caso sugerimos o artigo Un nombre nuevo para Sedum Candollei Raym.-Hamet, nom illeg., que começa na página 221 do número 52 (1994) da revista Anales do Jardin Botánico de Madrid, onde pode analisar as razões aduzidas por Ginés López González para se considerar ilegítima esta nomenclatura. Nesse texto, G. López propõe um novo nome, Sedum candolleanum Raym.-Hamet ex G. López, mas algumas Floras ainda não o adoptaram. Entretanto, podemos optar, como os espanhóis, por lhe chamar orelhas-de-monge, em alusão às folhas carnudas, roliças, vermelhuscas e imbrincadas.


Alto Campoo, Cantábria

1 comentário :

ZG disse...

Tem um ar suculento e fofo!!