17/09/2016

Maio em Cantanhede

Comecemos por recordar como é uma Leuzea conifera, uma das asteráceas mais bonitas dos calcários do centro e nordeste do país. Aprecia clareiras de bosques e taludes rochosos com solo bem drenado. Note como a folhagem é rasteira e como os capítulos de flores, terminais e solitários, nascem protegidos por uma atraente pinha de brácteas coriáceas e brilhantes.

Façamos agora algumas alterações ao formato e ao porte desta espécie. Estiquemos as folhas até terem uns 20 cm de comprimento e margens quase sem recorte, apontando num papel, para não esquecermos, que longifolia seria um epíteto apropriado para uma tal planta. Puxemos também para o alto a haste floral até ela atingir uns 70 cm, e finalmente coloquemos em cima uma pinha como a da L. conifera, arredondando-a, porém, para que se equilibre sem esforço na ponta do talo. E aqui temos mais uma espécie perene de Leuzea, a que chamaremos Leuzea longifolia. Assim alta e de folhas erectas, está perfeitamente adaptada a habitats húmidos, com solos margosos e escorregadios.


Leuzea longifolia Hoffmanns. & Link / Rhaponticum longifolium (Hoffmanns. & Link) Soskov


Naturalmente, a espécie que acabámos de fabricar é nossa. Trata-se de um endemismo lusitano, descrito em 1825 por Hoffmannsegg e Link na Flore Portugaise ou description de toutes les plantes qui croissent naturellement en Portugal, de que se conhecem apenas meia dúzia de populações, todas com poucos indivíduos. Teoricamente protegida por legislação portuguesa e da Comunidade Europeia, está de facto em perigo de extinção devido à destruição imparável dos habitats palustres no nosso território. A boa notícia é que a população que conhecemos, talvez a mais nortenha de todas as que existem, situada perto de uma das inúmeras lagoas de Cantanhede, parece em franca expansão entre os matos de urze, murta e carvalho-anão.

O género Leuzea tem estado em actualização e as suas espécies que ocorrem em Portugal foram transferidas para o género Rhaponticum. A L. longifolia designa-se Rhaponticum longifolium, nome a que tem direito desde 1959 a partir da investigação do botânico russo Yurij Soskov.

2 comentários :

bea disse...

Oxalá se mantenha em expansão que as águas da lagoa parecem pouco apetecíveis e, quem sabe, isso salva as espécies.

Yurnatur disse...

Olá, fico contente por saber que sempre chegaram a visitar essas lagoas de Cantanhede, que ainda conservam tantas e tantas plantas palustres interessantes e raras. E mais contente fico em saber que as mesmas ainda se conservam, já há mais de um ano que não tenho ido para esses lados. Forte abraço e boas descobertas.