15/10/2016

Pequenos remédios

Propomos-lhe hoje que comece por desenhar um pequeno traço fininho e vertical ao fundo de uma folha de papel, e que na ponta de cima do traço coloque dois outros traços um pouco menores a formar um V. Tem agora à sua frente um Y. A cada uma das duas pontas superiores deste Y, junte agora um novo par de segmentos em forma de V. Repita esta operação umas dez vezes. Obterá uma figura que, apesar do curto talo inicial e dos minúsculos tracinhos que foi acrescentando, ocupa uma boa porção do papel. Se em cada nó assentar duas pequenas folhas opostas e sésseis, e no topo do desenho algumas flores cor-de-centáurea de quatro ou cinco pétalas enfeitadas com um dentinho no ápice, terá um esquema fiel da planta que hoje aqui mostramos.


Exaculum pusillum (Lam.) Caruel


Esta estratégia de ramificação nota-se em plantas que, por habitarem prados temporariamente encharcados, precisam de evitar demasiada exposição à humidade das folhas e das flores; ou naquelas plantas com flores diminutas a quem convém aumentar a visibilidade das cimeiras de flores, como acontece no género Euphorbia. É um estratagema eficiente e barato pois, sem crescer demasiado, o que gastaria tempo (que falta a plantas anuais) e muita energia e nutrientes (que não abundam em solos arenosos), basta à planta organizar algumas poucas folhas e ramos de tamanho reduzido (pusillum) num arranjo mais favorável.

Há uns anos procurámos na serra do Açor esta única espécie de Exaculum, mas sem sucesso. Se reparar, a distribuição conhecida desta espécie em Portugal, embora se afirme na Flora Ibérica que vai do Algarve ao Minho, parece evitar o norte do país, mais próxima de nós. Por puro acaso, vimos no fim do ano passado uma população numerosa nas margens da lagoa da Pipa, mas já sem flores. Este ano voltámos ao Ribatejo em Julho e em Setembro e, além da Pipa, foram várias as lagoas em cujas margens detectámos este emaranhado típico dos raminhos de Exaculum.

O Exaculum pusillum é uma espécie anual que ocorre no sul e no oeste da Europa e no norte de África, mas, por ocupar uma área global restrita e muito fragmentada, em habitats vulneráveis ou em declínio, foi incluída com o estatuto de "quase ameaçada" na lista vermelha da IUCN para a flora em risco.

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