03/05/2018

Cruzes de Maio


Pritzelago alpina subsp. auerswaldii (Willk.) Greuter & Burdet


Em Maio, a 1100 metros de altitude, num vale cantábrico aninhado entre picos vertiginosos, já as plantas nos prados se podem dedicar à tarefa de florir agora que a neve derreteu. As apressadinhas, como a Hepatica nobilis, fazem-no tão prontamente que por esta altura são já poucas as flores que não se converteram em frutos. Outras mais avantajadas precisam de tempo para espigar antes de se enfeitarem: é o caso da Gentiana lutea – que, vendo-se por aqui aos milhares, só há-de mostrar o amarelo das flores a quem tenha a paciência de voltar no mês seguinte.

Na orla do prado, entre pequenos blocos de pedra calcária, brilham de brancura umas flores modestas que valem pelo conjunto. Pertencem elas a uma crucífera de caules sinuosos, de 10 a 25 cm de altura, com folhas basais pinatissectas que lembram muito as de uma outra crucífera dos calcários, a efémera e diminuta Hornungia petraea. De facto, embora a planta cantábrica seja tradicionalmente incluída no género mono-específico Pritzelago, alguns autores entenderam recentemente mudá-la para Hornungia, ficando ela a chamar-se Hornungia alpina subsp. auerswaldii. Do ponto de vista morfológico, essa opção parece justificar-se, pois também os frutos de uma e de outra são bastante semelhantes (confirme aqui e aqui). Há apenas o óbice de a (ex-)Pritzelago ser uma planta perene, quando todas as restantes espécies de Hornungia são anuais.

De entre as diversas versões de Pritzelago alpina (ou Hornungia alpina), a subespécie auerswaldii é distintiva por ser mais alta do que as outras (20 a 25 cm contra um máximo de 15 cm) e por possuir três ou mais folhas caulinares em cada haste (as restantes subespécies só costumam ter folhas basais). Algumas fontes indicam que a subsp. auerswaldii existe em França, mas é provável, segundo outras fontes, que essa informação esteja errada (em França, confirmadamente, ocorrem a subsp. alpina e a subsp. brevicaulis), o que faria da planta um endemismo ibérico. Está confinada ao norte da Península, e é particularmente frequente na cordilheira cantábrica, rareando nos Pirenéus, onde é substituída pela subsp. alpina. Aprendemos, com alguma surpresa, que ela faz parte da flora portuguesa: colhida pela primeira vez em 1971, em Vinhais, tem sido vista ocasionalmente por lá desde essa data; e, segundo Carlos Aguiar, "é um dos melhores exemplos de relíquias würmianas em Portugal". (E aqui damos licença ao leitor para ir espreitar à Wikipédia.)

1 comentário :

bea disse...

Nunca eu a houvera isto antes de hoje e só por foto.
Que também aquele caminho murado de pedras tem o seu interesse. Quem viveria nessas casa longe de tudo...