Uma alface na estrada do Teno
Astydamia latifolia (L. f.) Baill.
Na mitologia grega, Astydamia é uma ninfa, filha do deus Oceanus. Nome escolhido pelo botânico suíço Augustin Pyramus de Candolle e sem dúvida apropriado à planta que hoje vos mostramos (primeiramente descrita como Crithmum latifolium por Lineu filho), pois ela aprecia precisamente lugares rochosos salpicados de mar. Conhecida como espécie endémica do noroeste de África e ilhas Canárias, foi depois encontrada também nas Selvagens, as ilhas do arquipélago da Madeira mais próximas de África. Da família Apiaceae, a mesma do aipo, funcho, coentros e cenouras, esta herbácea é robusta, de folhas suculentas e talos lenhosos, e tolera grandes concentrações de sal e maresia. As flores são pequeninas, de pétalas amarelas com pontas recurvadas e sépalas com textura de papel que caem antes de as flores desabrocharem. Estas são hermafroditas mas apresentam algum dimorfismo, dispondo-se em geral no bordo da umbela as mais vistosas e funcionalmente masculinas. O fruto é um invólucro com uma tampinha, da cor da cortiça quando maduro.
A Astydamia latifolia é frequente na região costeira de Tenerife, e fomos conhecê-la num sábado morno de Dezembro. Sem o prevermos, começámos o passeio junto a uma cancela provisória bem guardada por um agente da autoridade. Informou-nos, em tom de proprietário, que aos sábados e domingos se vedava aquele percurso ao trânsito automóvel até ao fim da tarde. Creio que nunca nos soube tão bem largar ali o carro e percorrer a pé vários quilómetros sem que o bulício de viaturas se intrometesse com a nossa caminhada. Acedia-se à ponta da ilha onde é fácil fotografar a alface-do-mar por uma longa estrada sempre a subir, seguida de um túnel que desembocava numa outra via mais estreita mas igualmente extensa, ladeada por taludes abruptos até ao mar. No túnel, só alumiado quando o trânsito circula, ouviam-se ruídos que o medo logo associou a morcegos ou vingativos adamastores. Mas eram pássaros, osguinhas e borboletas, e à saída esperava-nos um habitat onde gastámos sem pressa várias horas. Levará meses até que consigamos revelar-vos todas as plantas extraordinárias que por lá observámos.
3 comentários :
Como diria minha avó, "louvado seja Deus". Por esse túnel sem carros e por vocês dois que o atravessaram. A alface marítima tem invejável viço. E imagino que, para dois estudiosos, o estarem cheios de novidades vegetais vos dê alma nova.
Um chá disso é muito bom pra espantar chatos...
VER de perto, como não vi há anos, é um privilégio (meu) de vos conhecer e seguir.
Anseio pelas "cañadas del Teide" e os seus exotismos.
Nunca me conso!
Abçs
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