06/01/2019

Crista de galo

Sendo o mundo vasto e a natureza pródiga, há muitas plantas que só conhecemos através de fotos. Uma alternativa a este conhecimento em dimensão 2 é a possibilidade de ver as plantas em jardins botânicos, onde as exibem com fins ornamentais ou pedagógicos. Por exemplo, os Kew Gardens têm uma colecção gigantesca de herbáceas, arbustos e árvores, talvez mais do que se pode ambicionar conhecer em pormenor numa vida. Tais jardins funcionam como os parques zoológicos, que enjaulam a selva em nome da conservação das espécies, e são muitas vezes o instrumento mais eficaz na preservação da biodiversidade. Em casos excepcionais, conseguimos passar deste conhecimento teórico, digamos, para o que realmente entusiasma os botânicos: ver a planta no seu habitat natural. Foi o que aconteceu com esta Isoplexis: vimo-la exuberante de flores, num mês de Agosto há uns anos, nos Kew Gardens; e revimo-la, em Dezembro de 2017, num bosque sombrio de laurissilva na serra de Anaga, em Tenerife.


Isoplexis canariensis (L.) J. W. Loudon


Dezembro? Mas a floração não decorre de Abril a Agosto? Pois sim, mas talvez não tenha sido apenas por sorte que uma planta ainda floria em Dezembro. Trata-se provavelmente de uma adaptação a novos polinizadores. Segundo algumas referências, o polinizador oficial da I. canariensis ter-se-á extinto nas Canárias (e a isso se atribuía a raridade desta planta), mas sabe-se agora que a I. canariensis tem outros visitantes, a quem agrada o tipo de néctar que ela oferece e se adequa um período mais longo de floração.

Vários autores consideram Isoplexis como uma secção do género Digitalis, onde Lineu colocou duas espécies de Isoplexis por notar a semelhança no formato das flores (apesar de as da Isoplexis terem um lóbulo grande superior e as da Digitalis terem-no inferior). Após algumas oscilações de opinião, foi finalmente decidido no início deste século, com base em estudos genéticos, manter Isoplexis como género autónomo.

Como já aqui referimos, há registo de apenas quatro espécies de Isoplexis: uma é endémica da Madeira (I. sceptrum); as outras são endemismos de algumas das ilhas Canárias (I. canariensis, I. chalcantha e I. isabelliana). Estão ainda na lista de retratos a visualizar em 3D.

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