12/01/2019

Nomes emprestados


Ceballosia fruticosa (L. f.) G. Kunkel



Que fazer quando a diversidade de seres vivos excede a quantidade de nomes disponíveis para a designar? Os nomes científicos combinam mal com o falar corrente, e há quem congemine "nomes comuns" para que os leigos nunca desconfiem da insuficiência das palavras. Lidamos bem com categorias amplas, amalgamando na mesma designação vaga (como "mosca", "árvore" ou "musgo") coisas muito heterogéneas, mas quando tomamos consciência dessa heteregeneidade fazem falta nomes mais específicos. Para isso é legítmo reciclar nomes que, noutros lugares, são atribuídos a outras entidades. Por exemplo, o folhado nos Açores (Viburnum treleasei) é um arbusto completamente diferente daquele que tem o mesmo nome na Madeira (Clethra arborea). O mesmo sucedeu com a Ceballosia fruticosa, pequeno arbusto endémico das ilhas Canárias: no arquipélago é conhecido como duraznillo, mas (de acordo com o portal Anthos) esse mesmo nome é dado, na Espanha continental, ao Viburnum tinus e a duas humildes herbáceas, Polygonum salicifolium e Polygonum persicaria. Além de pertencerem ao reino vegetal, e de serem todas elas plantas terrestres, custa discernir grandes afinidades entre estas quatro espécies.

Falando nós um castelhano trôpego, preferimos o nome científico Ceballosia ao vernáculo duraznillo, afinal causador de confusão. Ceballosia, além de fácil de pronunciar, é um nome perfeitamente inequívoco, pois este arbusto canarino é a única espécie do seu género. É um nome relativamente recente, criado em 1980 pelo naturalista alemão Günther Kunkel (1928-2007), substituindo o arrevesado nome Messerschmidia fruticosa com que Lineu filho baptizou a planta em 1782. Outros autores incluíram-na em diferentes géneros, chamando-lhe entre outras coisas Tournefortia fruticosa e Heliotropium messerschmidioides. A lição que daqui podemos extrair é que, se o nomes vernáculos sofrem de imprecisão, já os nomes científicos de certas plantas problemáticas são instáveis e controversos.

Não é fácil apontar parentes próximos deste arbusto, mesmo numa família tão diversa e tão amplamente representada na flora europeia como a das boragináceas. O seu historial taxonómico pode contudo dar-nos algumas pistas. Com alguma boa vontade, reconhece-se que as minúsculas flores brancas têm certa semelhança com as do Heliotropium, género que na Europa inclui apenas plantas herbáceas, mas pode atingir porte arbóreo no sudeste asiático e nas ilhas do Índico e do Pacífico. E os arbustos do género Tournefortia, quase todos eles originários da América tropical, têm parecenças muito vincadas com a Ceballosia, a julgar por esta foto da mexicana Tournefortia acutiflora. Essa parecença, contudo, desfaz-se na frutificação, pois os frutos da Ceballosia (3.ª foto acima) são verrucosos e verdes (pretos quando maduros), e os da Tournefortia são bagas brancas.

Presente em todas as ilhas Canárias, em geral em zonas de baixa altitude próximas do mar, a Ceballosia fruticosa é um arbusto de ramos esguios que apresenta um aspecto frágil e desgrenhado. Atinge 1 a 2 metros de altura, e floresce durante quase todo o ano. Em Tenerife vimo-lo na estrada do Teno, e em Lanzarote é frequente no norte da ilha (em particular no Malpaís de La Corona) como acompanhante da tabaiba-doce.

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