17/10/2019

Massaroco de Lanzarote

O leitor decerto concorda que o género Echium é dos mais fáceis de reconhecer quando em flor. É que as flores, de cor azul ou arroxeada (com raras excepções), são sempre taças com o bordo revirado e listadas na face interior, exibindo longos estames rosados a lembrar as línguas das víboras. Este é um género rico em espécies, algumas de distribuição tão ampla que não nos surpreende que ele esteja também abundantemente representado na flora das ilhas Canárias. Claro que, uma vez nas ilhas, a colonização não se fez sem adaptações, do que resultaram plantas com diferenças morfológicas suficientemente relevantes para que se tornassem autónomas das que lhes deram origem. É o caso deste endemismo canariense, das falésias do maciço de Famara, em Lanzarote.



Echium decaisnei subsp. purpuriense Bramwell [= Echium famarae Lems & Holzapfel]


Curiosamente, tal como aconteceu com algumas espécies açorianas (veja-se, por exemplo, o Centaurium portense, de flores cor-de-rosa, que nos Açores evoluiu para uma espécie que só dá flores brancas), as flores e os estames deste Echium são brancas, agrupando-se em inflorescências cónicas muito vistosas (ainda que menos espectaculares do que as do Echium wildpretii). Além disso, as folhas são longas (cerca de 12 cm) e quase glabras. A maior diferença, porém, é que esta é uma espécie arbustiva e lenhosa, atingindo cerca de um metro de altura. Um tal porte talvez resulte do clima ameno, da menor competição com outras espécies e do solo seco e rochoso mas cheio de nutrientes que muitas plantas apreciam.

Por boas razões, os taxonomistas distinguem duas subespécies, E. decaisnei ssp. decaisnei, da Gran Canaria, e E. decaisnei ssp. purpuriense, de Lanzarote e Fuerteventura (esta também denominada E. famarae em algumas Floras). O epíteto homenageia Joseph Decaisne (1807-1882), um agrónomo belga que começou a sua carreira como jardineiro em Paris e, enquanto botânico, foi descritor de inúmeras espécies novas.

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