Vieiras de Tenerife
Nos últimos tempos, em que as visitas de turistas a Portugal cresceram tanto que já não se restringem ao Verão e à semana da Páscoa, nota-se uma tendência de globalização preocupante: o país parece sentir a obrigação de oferecer serviços e entretenimento idênticos àqueles a que o turista está habituado no lugar onde vive. Há decerto benefício em imitar os melhores, mas a cópia terá sempre menos valor do que o genuíno, o que só existe no reduto que se visita. Afinal não deveríamos viajar centenas de quilómetros para apreciar o que é comum ao pé de casa. É por isso que ninguém escapa ao fascínio das espécies endémicas, as que só se podem conhecer em habitats restritos do planeta. A planta que vos mostramos hoje, fotografada nas rochas da berma da estrada do Teno, está nesse pacote excepcional pois só existe no noroeste da ilha de Tenerife.
O porte erecto, com talos que podem atingir um metro de altura, e as flores amarelas de margarida lembram as da Inula crithmoides, sendo ambas apreciadoras de taludes rochosos à beira mar; as folhas bicudas assemelham-se às da Inula salicina, mas, além de serem carnudas, são mais largas, glabras, dentadas e glaucas. A inflorescência mede cerca de 5 centímetros de diâmetro, e é difícil vê-la fresca depois de passada a Primavera.
Por falta de detalhes morfológicos que a irmanassem a alguma espécie de asterácea conhecida, foi criado um género novo (Vieraea) de que esta é a única espécie, chamada laevigata em alusão às folhas glabras. O nome do género é uma homenagem a José de Viera y Clavijo (1731-1813), historiador nascido em Tenerife e autor da obra Las bodas de las plantas (1806), um longo poema que explica alguma da ciência então conhecida sobre a polinização das flores.
1 comentário :
Continuo a gostar muito de seguir este vosso blogue. Não resisti a mostrar duas destas fotos neste post: https://imagenscomtexto.blogspot.com/2019/10/vieiras-de-tenerife-no-blogue-dias-com.html
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