23/10/2019

Reseda de Lanzarote


Reseda crystallina Webb & Berthel. [= Reseda lancerotae Webb & Berth. ex Delile]


O nome Reseda, usado por Plínio na História Natural (séc. I DC) e acolhido por Lineu no Species Plantarum (1753), deriva do verbo latino resedo, que significa acalmar, sossegar. Estas plantas, contudo, nunca terão tido grande uso medicinal, e talvez o único efeito calmante que possam produzir advenha do acto de as contemplar. As flores minúsculas não facilitam tal tarefa, obrigando ao uso de lupa ou de outros auxiliares de visão, mas a sua peculiaridade compensa bem o esforço. Caracterizam-se por um número variável (geralmente 5 ou 6) de pétalas amiúde fimbriadas e pelos estames salientes, numerosos, densamente agrupados, rematados por anteras muito engrossadas (foto). Os frutos, com três ou quatro "bicos" na ponta (correspondentes aos estigmas), são cápsulas mais ou menos cilíndricas: alguns têm aspecto insuflado e fazem lembrar sacolas (como os da Reseda phyteuma); outros, como mostram as fotos acima, são estreitos e alongados. As folhas costumam ter margens onduladas (foto) e apresentar lobos irregulares (foto).

Distribuídas pela Europa, norte de África e sudoeste da Ásia, são quarenta a cinquenta as espécies do género Reseda. A mais famosa, por ter sido amplamente usada em tinturaria antes do advento dos corantes sintéticos, é a Reseda luteola, uma erva ruderal de porte erecto muito comum no nosso país e por toda a Europa. A Reseda crystallina, que já se chamou Reseda lancerotae e é endémica de quatro ilhas do arquipélago canário (Lanzarote, Fuerteventura, Grã-Canária e Tenerife), é uma herbácea de porte modesto, ficando-se pelos 5 a 20 cm de altura. É fácil de identificar pela disposição das flores, em geral concentradas no topo de hastes que se vão alongando à medida que a frutificação progride. A forma e sobretudo a cor das flores também são distintivas, contrastanto o amarelo vivo das pétalas com as pétalas brancas habituais nas espécies do género. Nem a Reseda lutea nem a R. luteola, apesar de os epítetos sugerirem o contrário, têm flores verdadeiramente amarelas, apresentando, em vez disso, pétalas de um creme pálido, quase branco.

A Reseda crystallina é frequente em Lanzarote e Fuerteventura, em lugares arenosos ou rochosos e a altitudes relativamente baixas. Tolera um alto grau de secura e é capaz de ocupar os lugares mais inóspitos. Encontrámo-la, por exemplo, na subida para a montanha de Los Ajaches, no sul de Lanzarote: um lugar onde a aridez natural foi agravada, ao longo dos séculos, pelo pastoreio e por outras acções de desbaste da vegetação, havendo grandes extensões de solo esquelético onde nenhuma planta consegue medrar.

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