Correjola imperial
Reconhecer um objecto, ou uma imagem dele, é uma virtude que aprendemos cedo a dominar. Em criança, não hesitamos entre um gato ou um cão, ainda que ambos se possam inicialmente confundir na mente infantil com um triciclo. À medida que o mundo se agiganta e o cérebro de aprimora, a lista de objectos desconhecidos vai-se reduzindo. Conseguimos identificar a maioria instantaneamente, e até os substituimos por entradas num catálogo abstracto, um vocabulário, o que facilita o armazenamento na memória de toda essa informação. Descrito assim, parece fácil criar um algoritmo computacional que permita a uma máquina bem informada repetir este procedimento, segmentando a imagem para destacar elementos do fundo e reconhecer automaticamente o que nela é essencial. Mas não. Na busca de imagens nos motores de pesquisa da internet, o que em regra se procura é uma palavra, ou várias, no texto de apoio às imagens. O que parece batota. Ainda que alguns destes mecanismos consigam seleccionar imagens parecidas com outras, comparando por exemplo a gama de cores que exibem, decerto tais tentativas podem ingenuamente reunir aviões e pássaros numa mesma classe.
Este arrazoado vem a propósito do trabalho de investigação muito interessante que se tem vindo a desenvolver em matemática sobre reconhecimento de imagens, seja para conseguir ler pautas de música antigas e quase ilegíveis, seja para aperfeiçoar a focagem automática nas máquinas fotográficas, ou ainda para se identificarem plantas numa saída de campo. Não temos notícia de que um algoritmo de reconhecimento de plantas por imagens digitais esteja já em uso, mas seria realmente muito conveniente poder fotografar num prado uma planta em flor, e surgir de imediato no écran o nome científico dela. Na falta dessa ajuda, o que fazer? Vejamos um exemplo.
Nestas fotos estão imagens de uma planta que vimos em rochas calcárias na Cantábria. As flores redondas em cimeiras densas e a folhagem glauca e glabra, com talos de couve e hábito rastejante, lembram, em tamanho grande, as das espécies do género Corrigiola, não? Com este palpite, vamos a alguma Flora consultar a família deste género, que é a Caryophyllaceae, verificar se há alguma espécie parecida. Esta é uma tarefa de comparação que o cérebro humano faz em geral perfeitamente, e que em poucos minutos nos fornece o bilhete de identidade da planta fotografada:
Subfamília: Paronychioideae
Tribo: Corrigioleae
Género: Telephium L.
Espécie: T. imperati L.
E ficamos a saber, através de um motor de pesquisa da internet buscando pela palavra Telephium, que é um género monoespecífico, e que a sua única espécie ocorre na região mediterrânica, na metade este da Península Ibérica e um pouco mais a leste. Uma nota adicional dá conta de que o nome actualmente aceite, proposto por Lineu em 1753, alude ao deus Telephus da mitologia grega, de quem se diz ter sido ferido por Aquiles na trágica história de Helena de Tróia, e depois curado por uma destas plantas.
Sem comentários :
Enviar um comentário