Amarelo boreal
Na nossa última visita aos Pirenéus, em Agosto de 2019, agendámos um dia para passear no Parque Nacional de Ordesa e Monte Perdido, com intenção de conhecer, em particular, o edelweiss (Leontopodium alpinum, planta que inspirou a canção homónima do filme The Sound of Music). Permitindo um número limitado de visitantes por dia, era preciso comprar previamente um bilhete e disputar depois lugar num autocarro oficial, único veículo autorizado a circular nos meses de Verão na estrada até ao vale de Ordesa. Às 7 horas da manhã, já a fila para estes demorados preliminares era longa e desencorajadora. Desistimos para não perder o dia na espera, e seguimos para a aldeia de Chisagüés, em direcção à fonte de Petramula. De novo, as medidas de conservação deste espaço natural exigiam o pagamento de uma entrada (comprada na vila de Bielsa), mas desta vez poderíamos circular no nosso carro, desde que ele tivesse tracção às quatro rodas porque a estrada era de piso acidentado, íngreme, estreita e sem protecções laterais. Informados previamente desta exigência, seguimos por vários quilómetros num todo-o-terreno, envoltos em pó mas seguros, quase sem companhia de outros veículos.
Em pleno Verão, a floração de quase todas as plantas deste lugar, que vivem meio ano cobertas de neve, já tinha terminado. Mas acima dos 2000 metros ainda havia flores.
Todas as saxífragas de que há registo em território nacional dão flores brancas, ainda que algumas das espécies apresentem as cinco pétalas pintalgadas de amarelo ou rosa. Mas em Espanha, e nas regiões mais frias da Europa, ocorrem espécies de Saxifraga com corolas de outras cores. A espécie que hoje vos mostramos é perene, cespitosa, de folhagem densa e marcescente (não se desprende da planta mesmo depois de seca, servindo-lhe certamente de agasalho). Em geral de baixa estatura (cerca de 15 cm), floresce em corimbos de tom amarelo, laranja ou púrpura, por vezes com as pétalas pintalgadas. Curiosamente, as outras partes da flor parecem sintonizadas com a corola: pétalas mais escuras são acompanhadas por um cálice em tom verde mais intenso, e por estames e carpelos também escurecidos. Dir-se-ía que as flores têm dez pétalas, mas só possuem cinco do mesmo tamanho das sépalas. No centro de cada flor, pode notar-se (na 5.ª foto, ali onde está a formiga) um apetitoso anel com néctar a rodear a base da coluna de carpelos. As cápsulas com numerosas sementes abrem quando a neve regressa, ligeiramente e só num dos topos, para garantir (dizem os especialistas) que a libertação de sementes só se faça quando haja algum vento e uma superfície escorregadia de neve, aumentando assim a distância a que as sementes são dispersadas.
A Saxifraga aizoides forma tapetes em taludes bem irrigados, em margens de arroios ou fissuras de rochas, e é abundante em solos calcários nas montanhas mais altas da Europa. O epíteto aizoides indica que Lineu, em 1753, encontrou parecenças entre esta planta e as do género Aizoon.
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