Muralhas de Miranda
O que resta hoje da muralha defensiva de Miranda do Douro conta uma longa história de batalhas, invasões e ocupações do nordeste transmontano, e de restauros em tempos de paz. A ruína tem, porém, um atractivo de outra ordem, e foi isso que nos levou a Miranda: é vizinha de uma população de Silene conica, herbácea rara em Portugal, e que ali parece apreciar o solo arenoso e o agasalho do muro velho de séculos. A muralha parecia ter sido aspirada recentemente, bem limpa da pátina terrosa, talvez por ordens de conservadores empenhados; mas o recanto da Silene estava felizmente sem vestígios da acção de roçadoras ou herbicidas. Em Julho, com um ar muito quente e seco, não chegámos a tempo de lhe ver as flores; a maioria das cápsulas dos frutos, com formato engraçado de cebola branqueada pelo sol, já nem continha sementes. Viagem perdida, lamentámos, regressaremos sem fotos da desejada. Mas mesmo ao lado, em plena floração, e contente com o habitat pedregoso e a temperatura elevada, morava outra planta com cerca de um metro de altura que nos serviu de consolação.
As plantas da espécie Plumbago europaea são perenes, algo lenhosas na base, com talos erectos e delgados, folhas ásperas e flores pequeninas agrupadas em espiga. Podem ver nas fotos como cada flor tem um cálice glanduloso onde se apoia uma corola violeta, com a cor mais intensa nas nervuras a meio dos lóbulos. As folhas um pouco enrugadas parecem polvilhadas de farinha, decerto mais um lenitivo para a planta sobreviver ao calor intenso e à escassez de água. Tem uma distribuição ampla em quase toda a Península Ibérica, sul da Europa e região mediterrânica, mas os registos em Portugal confinam-na aos dois extremos: Algarve e Trás-os-Montes.
A denominação vernácula erva-das-feridas ou erva-de-santo-António alude a virtudes curativas ou analgésicas das folhas e raízes, e a uma acção antimicrobiana eficiente que a farmacopeia tradicional lhe atribui, e que alguns estudos recentes têm vindo a confirmar.