Linária das neves
Linaria alpina (L.) Mill.
Os cumes das grandes cadeias montanhosas são, a seguir ao fundo dos oceanos, os lugares menos acessíveis do planeta, mantendo-se com ecossistemas mais ou menos intocados por serem pouco propícios à presença humana. Claro que o desejo pela aventura e, mais tarde, a vontade de tornar esses lugares acessíveis aos menos enérgicos acabaram por devassar alguns deles com teleféricos, pistas de esqui, estradas, hotéis e toda a parafernália do turismo de massas. Ainda assim, nos Pirenéus, Alpes, Picos de Europa, Gredos e tantas outras montanhas pela Europa fora, a grande maioria dos cumes não se alcança sem esforço e uma boa dose de coragem. Até que a certa altura compreendemos que, pela idade ou circunstâncias de vida, há lugares que para sempre nos estarão vedados, e isso é algo que não devemos lamentar.
No nosso caso, há plantas que nunca iremos ver, alcandoradas nos picos para que nunca lhes falte o aconchego gelado que tanto apreciam. Mas na verdade não são assim tantas as plantas que estão restritas às maiores altitudes. Acontece é que aquelas que se distribuem desde os mil e poucos metros até bem acima dos dois mil vão florindo ordenadamente de baixo para cima, acompanhando o degelo — e, no período estival, quem as queira ver floridas tem que subir mais alto. Na visita que há uns anos em Agosto fizemos aos Pirenéus, onde nos ficámos preguiçosamente pelos grandes vales, poucas foram as plantas que vimos em flor.
Uma das excepções foi esta Linaria alpina, que vimos tanto na serra de Gredos como nos Pirenéus, e que com relutância nos mostrou duas ou três flores em ambas as ocasiões. É uma planta anual rasteira, de floras roxas ou azuladas com distintivas manchas amarelas no labelo, que se distribui por todas as grandes cadeias montanhosas da Europa ocidental. Aparece geralmente em altitudes acima dos 1500 metros, e atinge os 3300 nos Pirenéus. A serra da Estrela, embora compreendida nesse intervalo altitudinal, fica fora da área de distribuição da espécie, culpa dos invernos menos rigorosos causados pela proximidade do Atlântico. Por isso não desfrutámos do conforto burguês de termos a planta à mão de fotografar ao apearmo-nos do automóvel. Em Gredos, onde as estradas se quedam muito abaixo dos cumes, foram 5 ou 6 km por um trilho sempre a subir para a encontrarmos a uma altidude modesta, rondando os 2200 metros.
2 comentários :
Me parece preciosa. Saludos.
Quando quero descansar os olhos e aumentar a amplitude do espírito, aqui poiso!
Abçs
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