Floribunda mas nem tanto
Perto da entrada lateral dos jardins do Palácio de Cristal, escondida num bosquete de metrosíderos, camélias e rododendros, está uma árvore de origem australiana com folhas lustrosas, pendentes e rosadas no Outono. Tem cerca de 8 metros de altura (mas poderia atingir os 30) e a copa, de folhagem perene, é frondosa mas menos imponente do que poderia ser. Demorámos a reparar nela, e mais ainda a acertar com a data de floração para a fotografar. Não sabemos se pertence ao projecto inicial do jardim, de Emil David, caso em que já estaria plantada em 1865. O modelo de jardim então em voga na Europa servia vários propósitos, entre eles o de permitir o passeio sossegado por longas alamedas, ladeadas por renques de árvores da mesma espécie (frequentemente plátanos ou tílias), o apreço por açafates com muitas flores variadas (que certa arquitectura portuense entretanto desqualificou e tem paulatinamente eliminado de praças e jardins) e o coleccionismo de exemplares botânicos exóticos (que dominam nos jardins antigos que ainda sobrevivem no Porto). A árvore que vos mostramos hoje pode ter sido um desses pontos de interesse dos jardins do Palácio de Cristal.
A fama entre jardineiros desta mirtácea vem-lhe da floração exuberante. Apesar de as flores serem minúsculas, são tantas, nascem em panículas tão densas e têm tantos estames (um formato que lembra as flores dos eucaliptos), que alguns exemplares no Verão (entre Dezembro e Março na Austrália, seis meses depois por cá) parecem brancos quando vistos de longe. Não lhe vimos ainda os frutos, mas são redondos e esverdeados, com uma semente grande, como os deste exemplar na ilha de São Miguel. O tronco é acinzentado, marcado por fissuras e ligeiramente rombudo na base, uma característica que denuncia a sua preferência por habitats húmidos e margens soalheiras de riachos. No jardim do Palácio de Cristal, porém, está longe do lago e nem consegue avistar o mar. Talvez por isso a sua floração seja modesta, como modesto tem sido o seu crescimento. Antes, e ainda mais agora, a selecção de árvores para ornamentar jardins terá sido mais guiada por caprichos do que pelo conhecimento.
1 comentário :
Uma beleza... ao pé da porta!
Abç
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