08/03/2022

Balancé das areias

Traganum moquinii Webb ex Moq.


Fuerteventura, a mais árida e mais africana das ilhas Canárias, parece ter sido concebida para estes tempos em que, para a maior parte da população ocidental, férias e lazer são sinónimos de praia. Até terá sido algo sobredimensionada, pois a ilha tem 100 km de uma ponta a outra e a costa é quase um areal ininterrupto. Nem no pico do Verão será preciso procurar muito para encontrar uma praia longe das multidões. Em alguns pontos as dunas penetram vários quilómetros pelo interior da ilha, mas talvez uma praia de onde o mar não se aviste seja insatisfatória mesmo para os veraneantes que só queiram tomar banhos de sol. Já não é praia, mas sim deserto — uma miniatura do Sara onde a solidão, em vez de convidar ao apaziguamento, nos enche de inquietude.

A vegetação das dunas, em Fuerteventura, não é uniforme, dependendo do grau de proximidade do mar e da maior ou menor consolidação do substrato arenoso. Há plantas que gostam de ser regularmente salpicadas pelas ondas e banhadas pelas marés (por exemplo, a Suaeda vera), outras que se mantêm distantes da linha de costa mas preferem as dunas fixas (como a Salsola vermiculata), e finalmente aquelas que vivem em dunas instáveis — às quais, na nossa latitude, chamaríamos dunas primárias, mas que em Fuerteventura podem estar a uma distância considerável do mar. Um exemplo desta última classe é o Traganum moquinii, que nas Canárias é conhecido como balancón, quem sabe se por viver sobre chão tão oscilante. Por sinal, as três plantas arbustivas que demos como exemplo pertencem todas à família Amaranthaceae (e integravam antes a família Chenopodiaceae), que é largamente dominante entre as comunidades vegetais de baixa altitude em Fuerteventura. As duas primeiras, porém, ocorrem também na Europa (e, em particular, em Portugal, sobretudo na metade sul), enquanto que o Traganum moquinii apenas está presente nas Canárias, em Cabo Verde e no litoral de Marrocos.

Arbusto rasteiro e muito ramificado, embora capaz, com a idade, de atingir 2 ou 3 metros de altura, o Traganum moquinii tem uma silhueta muito reconhecível quando se avista ao longe na crista das dunas. Mais ao perto, distingue-se pelas folhas suculentas, curtas, com ápice arredondado, dispostas em fascículos densos, e pelas flores diminutas, de cinco pétalas amarelas, que surgem aninhadas nas axilas das folhas.

1 comentário :

bettips disse...

Nem sei que comente! É uma "fuerte ventura" para mim conhecer-vos, é isso!