Dragãozinho das ilhas
Nas listas vermelhas das floras, há pelo menos duas etiquetas que os botânicos temem: em perigo crítico e extinta. São formalmente diferentes, mas frequentemente traduzem a mesma realidade: a espécie tem tão poucos indivíduos vivos que dificilmente algum programa de conservação a salvará. Na lista de espécies ameaçadas em Portugal continental, o adjectivo ameaçada é, para algumas espécies, um eufemismo, pois não há sinal da presença delas em território nacional há muitas décadas. Na prática, um dos critérios usados para se declarar uma espécie extinta num local do planeta é simples: apesar de inúmeras prospecções, já não é vista nesse local há x anos, sendo x um número adequado ao habitat e à planta. Do Dracunculus canariensis, espécie da laurissilva, endémica da Madeira e das Canárias, que existiu em São Martinho e São Gonçalo (na costa sul da Madeira) e em Santana (na costa norte), não há registos nessa ilha há mais de cem anos. Por isso fomos vê-lo a Tenerife.
Nota-se pela arquitectura da inflorescência que o D. canariensis é parente do Arum italicum e do Arisarum simorrhinum: uma haste carnuda (o espadiz) com flores minúsculas (femininas, masculinas e estéreis), envolta por uma folha modificada (espata) que no caso do Arisarum tem forma de capuz, e no do Arum lembra um jarro de leite. Crê-se que estas diferenças no formato da espata resultam da adaptação a distintos polinizadores e habitats. Mas é pela folhagem e pelo porte que estas três espécies mais se distinguem. O D. canariensis pode atingir 1,5m de altura, enquanto o Arisarum simorrhinum nem chega aos 10cm e o Arum italicum anda pelos 50cm. Além disso, as folhas do D. canariensis (conhecido nas Canárias como taraguntía) têm um pecíolo longo (de uns 40cm) e são lobadas, com 5 a 7 lobos que parecem folhas independentes.
Também da família Araceae, ocorre na Península Ibérica um endemismo curioso, o Biarum mendax. É mais uma espécie em perigo porque, além de muito rara, prefere o solo dos olivais tradicionais, também eles à beira do desaparecimento.
1 comentário :
Tão imponentes as fragas e especiais as plantas que as habitam! ah... os olivais tradicionais... sempre que os vejo, tão poucos, surge-me como que uma prece no tempo. Que digo para dentro de mim: "oxalá".
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