Margarida galega
Entrando na Galiza pela ponte de Cerveira, e seguindo pela costa até Baiona, observamos na paisagem, tanto natural como construída, uma óbvia continuidade com o território minhoto. É o mesmo povoamento intermitente de casas à beira da estrada em que o urbano e o rural nunca estão verdadeiramente apartados; são os mesmos pinhais e eucaliptais, as mesmas rotundas, idênticos supermercados, iguais postos de combustível. As diferenças ficam mais nítidas quando paramos para almoçar em algum restaurante, mas não pelas vozes que agora se ouvem. Afinal, em Valença e até no Porto, tantos e tão loquazes são os espanhóis em passeio que nas ruas se ouve mais o castelhano do que o português. É pela comida que não é igual à nossa, pelos horários tardios das refeições e, sobretudo, pelos preços praticados, adaptados a um poder de compra que já não é o nosso.
Mesmo que a ocupação do território siga padrão semelhante, este pedaço de costa galega é muito mais escarpado e pedregoso do que o litoral minhoto. Entre a desembocadura do rio Minho e Baiona, são 35 km de rochas e falésias sem um único areal onde os veraneantes possam estender toalhas. No Minho, por contraste, as praias sucedem-se umas às outras com apenas breves interlúdios rochosos na Areosa e em Montedor. Enquanto a erosão costeira não lhe devorar todas as praias, o Minho manter-se-á imbatível na atracção de famílias em férias. Mas quem prefira ocupar-se em actividades mais enérgicas do que apanhar banhos de sol — na observação de plantas, por exemplo — tem bons motivos para visitar esta costa galega que promete resistir ao avanço do mar até ao fim dos tempos.
Existindo em abundância, do lado de lá da fronteira, um tipo de habitat que é escasso do nosso lado, é natural que algumas plantas não transponham o rio Minho e abdiquem de ser portuguesas. Podem, noutras épocas, ter ensaiado incursões para reconhecimento do terreno, mas acabaram por não se instalar por falta de condições apropriadas. E foram pelo menos duas as plantas apanhadas nessas incursões minhotas por botânicos ávidos de enriquecer a flora nacional: a Angelica pachycarpa (que afinal já era portuguesa por morar nas Berlengas) e este Leucanthemum merinoi (a que chamamos margarida-galega). Nenhuma delas conseguiu (ou pôde) manter-se no litoral do Minho, e já não é por lá avistada há mais de vinte anos.
O caso da margarida-galega é particularmente vexatório, pois a planta — que em meados de Junho já leva a floração avançada — é irritantemente fácil de observar nos taludes da estrada que liga A Guarda a Baiona. Não estamos pois a falar de uma raridade que se acantona em recantos frágeis e desaparece à menor perturbação do habitat. Custava-lhe assim tanto flexibilizar as exigências ecológicas para se instalar a título definitivo no nosso país?
Antes que venha um compatriota nosso anunciar que já viu por cá essas margaridas e até lhe apareceram algumas no quintal, convém esclarecer que, de facto, o género Leucanthemum está bem representado na nossa flora, havendo uma espécie (L. pseudosylvaticum) que é frequente na metade norte do país. A variação entre as espécies de Leucanthemum é pequena, podendo a distinção entre elas ser problemática e não raro controversa. Contudo, o Leucathemum merinoi é distintivo por ter base lenhosa, por formar toiças de caules robustos, e por ter folhas rijas, quase carnudas. Uma planta adulta, bem desenvolvida, tem um aspecto arbustivo muito contrastante com o ar grácil das demais espécies do género.
2 comentários :
Sejam bem vindos! A costa que referem é totalmente ocupada por rochedos, muito bela e agreste. Um regalo para parar e ver... e olhar para o chão das plantas à espera que as reconheçam. Isto é, com quem sabe! Abçs
Es preciosa y en esos paisajes más. Besos.
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