28/02/2024

História dos sete assobios



Apesar de geograficamente as Canárias serem africanas (como aliás é a Madeira), e de a sua flora ter muito mais elementos africanos do que europeus, ocorrem no arquipélago plantas endémicas que se inscrevem claramente em linhagens europeias. O género Silene é disso bom exemplo: as sete espécies do género endémicas dessas ilhas são todas variações da europeia Silene nutans, distinguindo-se desta apenas por detalhes morfológicos que de modo nenhum disfarçam essa afinidade. Por uma vez, a migração para as ilhas não fez com que as plantas se agigantassem ou assumissem formas excêntricas.

Silene pogonocalyx (Svent.) Bramwell


No mundo inteiro existem quase 900 espécies de Silene, a maioria delas no hemisfério norte. São fáceis de reconhecer pelas flores de cinco pétalas mais ou menos fendidas, com cálices alongados marcados por veias longitudinais paralelas. No entanto, o aspecto geral dessas plantas é muito variável: umas espécies são anuais, outras perenes; umas rasteiras, outras aprumadas; algumas apresentam roseta basal, outras só têm folhas caulinares; umas são peludas, outras glabras. A Silene nutans e as suas congéneres canarinas, entre elas a Silene pogonocalyx com que ilustramos o texto, pertencem todas à secção Siphonomorpha, uma das muitas em que este género tão diverso foi dividido. São plantas perenes, em geral lenhosas na base, com folhas basais mais ou menos espatuladas; têm hastes florais erectas, com nós regularmente espaçados e dois ramos laterais em cada nó; as flores são pendentes, com pétalas profundamente fendidas.

A Silene pogonocalyx, que encontrámos no bordo sul da Caldeira de Taburiente, num lugar chamado La Cumbrecita, só não é endémica de La Palma porque se supõe que exista também em El Hierro, embora não haja confirmação recente dessa presença. Em La Palma, a planta ocorre esporadicamente em todo o perímetro do grande vulcão que domina o centro da ilha, ascendendo à altitude de 2400 metros no Roque de Los Muchachos. Aí vive em zonas quase despidas de vegetação, abrigada em fendas de rochas; mais abaixo, em ambientes menos inóspitos, vegeta à sombra dos pinheiros (Pinus canariensis) que, mesmo nas vertentes mais íngremes, formam uma cobertura quase contínua das zonas de média altitude da ilha.

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