Que mil tomilhos floresçam
Micromeria herpyllomorpha Webb & Berthel.
Estes arbustos de folhagem miúda fazem lembrar tomilhos, e aliás é esse o nome que lhes dão nas Canárias, mas a ausência do característico perfume leva-nos a suspeitar que sejam outra coisa. Na verdade, as diferenças entre tomilhos e estas lamiáceas insulares são de tal ordem que justificam a separação em géneros botânicos diferentes. Com excepção de uma espécie em Lanzarote, os tomilhos genuínos (género Thymus) não são parte da flora nativa das Canárias; em compensação, os falsos tomilhos (género Micromeria) são muito numerosos nessas ilhas, contando-se por lá mais de 20 espécies ou subespécies endémicas, quase todas com distribuição restrita a uma só ilha.
A Micromeria herpyllomorpha é a representante única dessa estirpe em La Palma. Isso confere à nossa identifcação um grau de certeza que não estaria ao alcance de amadores descomprometidos como nós em ilhas como Tenerife ou Grã-Canária, em cada uma das quais existem 8 ou 9 espécies ou subespécies endémicas de Micromeria. Num género em que as variações morfológicas são pequenas e os caracteres diagnósticos subtis, a distinção entre as várias entidades pode ser problemática, com diferentes especialistas a desentenderem-se quanto ao correcto tratamento taxonómico. Revelando-se os dados morfológicos ambíguos ou enganadores, só o advento dos estudos genéticos trouxe alguma ordem e estabilidade à divisão do género em espécies e subespécies. Em 2015, um artigo de Pamela Puppo e Harald Meimberg na revista Phytotaxa (ver aqui) propôs, com base na filogenia, uma reorganização do género Micromeria nos arquipélagos das Canárias e da Madeira. Houve muitas subespécies promovidas a espécies, e (em menor número) subespécies que transitaram de uma espécie para outra. De um modo geral, os autores concluíram ser inadequado considerar espécies com múltiplas subespécies distribuídas por diferentes ilhas. Da Micromeria varia, por exemplo, foram descartadas todas as seis subespécies em que, para além da subespécie nominal, a espécie havia sido dividida — uma delas era a madeirense M. thymoides.
O tomillo palmero, que floresce (pelo menos) entre Março e Junho, é frequente em La Palma desde as zonas costeiras até às maiores altitudes, mostrando preferência por lugares secos e soalheiros. As plantas das zonas altas da ilha, acima dos 2000 metros, são rasteiras, não ultrapassando os 25 cm de altura, e têm sido segregadas numa subespécie própria (Micromeria herpyllomorpha subsp. palmensis); a subespécie nominal, que ocorre no resto da ilha, integra plantas de porte erecto, capazes de atingir os 70 cm de altura. É a esta última que pertencem as plantas por nós fotografadas no Barranco de la Madera, situado na metade oriental de La Palma.
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