Salsa caprina
Pimpinella dendrotragium Webb
Prosseguimos o nosso ciclo de plantas com aspecto familiarmente europeu mas que são endémicas das Canárias, um arquipélago geograficamente africano. Desta vez é uma salsa, que é como chamamos, preguiçosamente, às umbelíferas cuja folhagem faz lembrar a desse tão popular condimento culinário. Na planta acima ilustrada, as flores de cor branca já são aviso suficiente de que não se trata da verdadeira salsa, pois esta costuma dar flores amareladas. E é de todo desaconselhável colher folhas de presumíveis salsas silvestres com intenção de as consumirmos: as possiblidades de confusão são inúmeras, e algumas destas salsas fingidas são mortalmente venenosas.
Não são apenas os portugueses, tradicionalmente ignorantes em matéria de plantas silvestres, que confundem as salsas. Nas Canárias, todas as espécies endémicas do género Pimpinella, num total de cinco, são tratadas como perejil, que é o nome vulgar da salsa em castelhano. A Pimpinella dendrotragium, endémica de Tenerife e de La Palma, é conhecida como perejil cabruno, o que se traduz por salsa caprina. A menção à cabra vem do epíteto dendrotragium, que combina uma referência ao dito animal (em "tragium"), motivada talvez pelo odor da planta, com uma alusão (através do prefixo "dendro") ao carácter lenhoso dos exemplares idosos.
Distribuídas pela Europa, Ásia e África, há no mundo inteiro cerca de 150 espécies de Pimpinella. Ao contrário da verdadeira salsa, que é folharuda de alto a baixo, a folhagem das pimpinelas costuma concentrar-se na base das plantas. E é atendendo ao recorte e ao número de divisões das folhas basais que é possível, sem dificuldade, distinguir as diferentes espécies do género nas Canárias (na verdade, só em Tenerife, onde ocorrem quatro espécies, é que essa distinção é menos imediata). Das cinco espécies em questão, só a Pimpinella dendrotragium e a Pimpinella cumbrae têm folhas basais simplesmente pinadas; as restantes têm-nas bipinadas ou tripinadas. E, para destrinçarmos estas duas espécies, basta notar que, contrastando com a folhagem verde da P. dendrotragium, as folhas da P. cumbrae são glaucas e apresentam um recorte muito mais regular (veja esta foto). E há a questão da ecologia: como o próprio nome sugere, a P. cumbrae está restrita às maiores altitudes (de 2000 metros para cima) das ilhas onde ocorre, que são Tenerife e La Palma. A P. dendrotragium, que fotografámos nos pinhais de La Cumbrecita, em La Palma, onde a espécie é moderamente frequente, vive entre os 400 e os 1400 metros de altitude.
1 comentário :
Mto int.!! Nunca tinha visto esta bela "salsa" canária!!
Enviar um comentário